No sábado à noite, na rua principal da farra em Bom Despacho, encontrei um amigo de infância que já não residia na Cidade Sorriso há alguns meses. Taylon havia enfrentado o vestibular e eu ainda estava em dúvidas quanto ao futuro acadêmico. Ele estava em busca de companheiros para dividir um apartamento, para montar uma república de estudantes na capital mineira. Respondi prontamente que seria um deles, mesmo não tendo certeza da permissão da minha mãe. Afinal, naquele dia de um julho frio, a morte do meu pai completava uma semana. Era 1998.
Apesar da boa memória, não me recordo exatamente a data em que saí de casa. Levei os móveis, os eletrodomésticos, para Belo Horizonte em um fim de semana; mudei-me de mala, cuia, livros, a imagem de São Judas Tadeu, a saudade do meu quarto, da minha família, as roupas, numa quarta-feira seguinte. Cheguei à noite no local que seria minha nova residência durante os próximos seis meses. Lembro-me que era em agosto, disso não tenho dúvidas. E já se foram 18 anos. O tempo passou muito rápido e desde aquele dia várias histórias aconteceram. A chegada da maioridade da minha mudança é uma delas, pois, além das lembranças, há aquela ansiedade para o que virá. Será que está na hora de mudar novamente?
A chegada desse período tem mexido com meus
pensamentos. Nostalgia, futurologia, uma vontade de praticar coisas que só
prometo e vou deixando nas gavetas. Limpei algumas semanas atrás e fiz o
desapego de objetos guardados da época em que escolhi Beagá como um lar. Quero
novidades. Outras histórias, sem me esquecer daquelas que me trouxeram até
aqui.
Recentemente, meu aluno, Lucas, ficou impressionado
com algumas frases que pronunciei na sala de aula, ao mostrar o que é
propaganda cívica. Aquela ideologia para que valorizemos nosso país e seus
símbolos como o Hino Nacional e a bandeira. Ele quis saber os motivos do meu
patriotismo, quase exagerado, já que, segundo a constatação dele, a atitude é
incomum na atualidade. Concordo, mas aprendi certa vez o porquê do meu amor ao
Brasil.
Amo a nossa pátria, porque amo
as minhas raízes, a minha cidade, o local onde nasci. Foi através de uma lição
de um mestre que admiro, o professor e jornalista Carlos Felipe Horta. Numa
conversa em que eu dizia que gostaria de desbravar o mundo, ele me provocou
perguntando: qual o significado do nome Bom Despacho? Não soube responder,
envergonhado. Assim, Carlos Felipe me deu uma missão e um dos maiores ensinamentos
que já recebi na vida: “antes de conhecer outros países, descubra a sua própria
história, a sua origem”. Sempre que tenho oportunidade, faço o dever e vou
descobrindo um pouco dos nossos ancestrais, dos casos da cidade da Senhora do
Sol, dos mistérios que ainda não foram revelados.
Mesmo
vivendo há tanto tempo longe da minha terra, tenho um sentimento de
pertencimento incrível. Quanto mais viajo, faço turismo, convivo com a
biografia de Belo Horizonte, mais tenho a certeza que moro é em Bom Despacho.
Levo ao mundo o que sou como bom-despachense. Está no sangue, nos valores, no
coração. Fisicamente não estou caminhando pelas ruas onde cresci. Porém, cada
cheiro, cada pessoa, cada momento que recordo, permanecem nas estradas da minha
história. Nesses 18 anos, de um aniversário diferente, o melhor presente é a
certidão de nascimento, é saber que tenho uma origem, um DNA feliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário