Na cobertura diária do noticiário, já vi os mais variados
modelos de crimes. Marido ciumento que mata esposa; jovem viciado que morre
pela arma do traficante; lavadeira vingativa que rouba as joias da madame;
patroa que destrói os sonhos da empregada por causa de caprichos. Já vi,
também, cenas horrorosas de histórias que nunca estariam em nenhum livro, nem
naqueles que gostam da tragédia como tema principal. Diariamente, fico sabendo
de uns trinta casos ocorridos somente em Minas Gerais. Por causa do meu
trabalho, muitos se tornam banalizados. Parece que produzimos a mesma notícia,
mas com pessoas diferentes. Esse fato deixa o ofício do jornalista amargo,
longe do glamour que aparece na magia da televisão. Eu gostaria de poder contar
boas notícias sempre. Porém, a realidade é mais dura. Tento não sofrer.
Contudo, sou sensível, choro pela miséria dos outros, pela dor da mãe que
enterra um inocente com uma bala cravada no peito, pelo descaso das autoridades
políticas que gozam de privilégios usurpados da população.
Há crimes que me deixam sem chão.
Os que mais me dão nojo são aqueles em que crianças são subtraídas da vida ou
perdem a dignidade na crueldade de estupradores. Aqueles que mais me revoltam
são os provocados pela crueldade humana, em que homens e mulheres se
transformam em selvagens, que não racionalizam - deixam a nuvem da ignorância
esconder o mínimo da inteligência que ali possa existir. Estou com medo das
últimas barbaridades trazidas pelos jornais. E me pergunto: onde vamos parar
com o excesso de violência provocada por gente que acredita que justiça se faz
com as próprias mãos? Será que, no ciclo da vida, estamos regredindo e nos
transformando em brutais macacos quando, na evolução, deveríamos ser homo sapiens realmente com sapiência?
A campanha feita contra o
preconceito no episódio em que o jogador Daniel Alves comeu uma banana serve
muito para outro momento assustador que aconteceu nestes dias no Brasil: a
surreal morte de Fabiane Maria de Jesus. A dona de casa foi agredida e
espancada por dezenas de moradores da cidade do Guarujá, em São Paulo. A mulher
foi atacada a partir de um boato gerado na Internet, o qual afirmava que ela
sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra. Sinceramente,
povo brasileiro, entre nós, existem muitos macacos. Seres irracionais que
atacam seus semelhantes, agindo por um instinto assassino.
O mais grave dessa catástrofe
social são os cúmplices do homicídio que deixou um viúvo, dois órfãos, uma
família destruída, uma nação chocada. Sem pudores, os carniceiros filmaram a
vítima amarrada, chutada, cuspida, arrastada pelas ruas do bairro onde morava.
Para mim, quem inventou a fofoca, quem colocou a foto nas redes sociais, quem
compactuou com as agressões, quem estava com uma câmera em punho, não deve ir
para a prisão. Eles merecem ser trancados numa jaula, no meio da floresta, onde
é o lugar dos animais.
Comprovadamente, nem insetos,
muito menos os mamíferos, matam seus iguais; somente atacam por instinto de
sobrevivência, por que essa é a lei da selva. Por isso, seria errado
classificar metaforicamente os homens, chamando-os assim, de bichos. Aos
bichos, seria injusta a comparação. Estes não são violentos por maldade.
Humanos, sim, agem por crueldade.
Os protestos, as palavras de
ordem, as manifestações por tudo “estão na onda”. Em muitos momentos, estamos
sendo meros imitadores que não raciocinam sobre o movimento que está nos
coordenando. Por isso, diante de todos os exemplos que demonstram o nosso lado
irracional, está na hora de sairmos às ruas e de gritarmos bem alto, colocar na
camisa o texto da moda: somos todos macacos. Sim, nós somos. Infelizmente, mas
ainda somos um bando de selvagens.
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