domingo, 11 de maio de 2014

VOCÊ É UM HOMEM OU UM MACACO?



Na cobertura diária do noticiário, já vi os mais variados modelos de crimes. Marido ciumento que mata esposa; jovem viciado que morre pela arma do traficante; lavadeira vingativa que rouba as joias da madame; patroa que destrói os sonhos da empregada por causa de caprichos. Já vi, também, cenas horrorosas de histórias que nunca estariam em nenhum livro, nem naqueles que gostam da tragédia como tema principal. Diariamente, fico sabendo de uns trinta casos ocorridos somente em Minas Gerais. Por causa do meu trabalho, muitos se tornam banalizados. Parece que produzimos a mesma notícia, mas com pessoas diferentes. Esse fato deixa o ofício do jornalista amargo, longe do glamour que aparece na magia da televisão. Eu gostaria de poder contar boas notícias sempre. Porém, a realidade é mais dura. Tento não sofrer. Contudo, sou sensível, choro pela miséria dos outros, pela dor da mãe que enterra um inocente com uma bala cravada no peito, pelo descaso das autoridades políticas que gozam de privilégios usurpados da população.

Há crimes que me deixam sem chão. Os que mais me dão nojo são aqueles em que crianças são subtraídas da vida ou perdem a dignidade na crueldade de estupradores. Aqueles que mais me revoltam são os provocados pela crueldade humana, em que homens e mulheres se transformam em selvagens, que não racionalizam - deixam a nuvem da ignorância esconder o mínimo da inteligência que ali possa existir. Estou com medo das últimas barbaridades trazidas pelos jornais. E me pergunto: onde vamos parar com o excesso de violência provocada por gente que acredita que justiça se faz com as próprias mãos? Será que, no ciclo da vida, estamos regredindo e nos transformando em brutais macacos quando, na evolução, deveríamos ser homo sapiens realmente com sapiência?

A campanha feita contra o preconceito no episódio em que o jogador Daniel Alves comeu uma banana serve muito para outro momento assustador que aconteceu nestes dias no Brasil: a surreal morte de Fabiane Maria de Jesus. A dona de casa foi agredida e espancada por dezenas de moradores da cidade do Guarujá, em São Paulo. A mulher foi atacada a partir de um boato gerado na Internet, o qual afirmava que ela sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra. Sinceramente, povo brasileiro, entre nós, existem muitos macacos. Seres irracionais que atacam seus semelhantes, agindo por um instinto assassino.

O mais grave dessa catástrofe social são os cúmplices do homicídio que deixou um viúvo, dois órfãos, uma família destruída, uma nação chocada. Sem pudores, os carniceiros filmaram a vítima amarrada, chutada, cuspida, arrastada pelas ruas do bairro onde morava. Para mim, quem inventou a fofoca, quem colocou a foto nas redes sociais, quem compactuou com as agressões, quem estava com uma câmera em punho, não deve ir para a prisão. Eles merecem ser trancados numa jaula, no meio da floresta, onde é o lugar dos animais.   

Comprovadamente, nem insetos, muito menos os mamíferos, matam seus iguais; somente atacam por instinto de sobrevivência, por que essa é a lei da selva. Por isso, seria errado classificar metaforicamente os homens, chamando-os assim, de bichos. Aos bichos, seria injusta a comparação. Estes não são violentos por maldade. Humanos, sim, agem por crueldade. 

Os protestos, as palavras de ordem, as manifestações por tudo “estão na onda”. Em muitos momentos, estamos sendo meros imitadores que não raciocinam sobre o movimento que está nos coordenando. Por isso, diante de todos os exemplos que demonstram o nosso lado irracional, está na hora de sairmos às ruas e de gritarmos bem alto, colocar na camisa o texto da moda: somos todos macacos. Sim, nós somos. Infelizmente, mas ainda somos um bando de selvagens. 

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