Gosto de gente. De conhecê-las. De
saber do que se trata na sua intimidade. O jornalismo dá esta oportunidade.
Primeiro recebi o material de divulgação do livro, a editora me enviou uma cópia.
Li em quatro sentadas: quando chegou, na véspera de um sono, na ida e na volta
de uma viagem a São Paulo. O autor me adicionou no facebook, ansioso para saber
se eu já havia lido, em que parte estava, quando eu iria publicar uma resenha. Conversamos
amenidades. Mais do que uma entrevista, a primeira publicada neste meu blog, eu
queria compartilhar o que me deixou curioso após a leitura de Entre Irmãos. Admiro
escritores. Quem tem esta coragem de se assumir ao mundo pelas palavras e
encarar o mercado editorial.
Rafael Farias Teixeira é
jornalista, tem 26 anos, nasceu na terra que deixa saudades – Salvador (BA). Talvez
tenha nascido no local certo, terra de talentos, berço da nossa gente, mas saiu
em busca de desafios. Estudou na Universidade de São Paulo e, atualmente, é repórter
da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios e também, é claro, é escritor. Escreve ainda para o blog Só na Social – que trata de assuntos “falados
e compartilhados” nas redes sociais.
Entrevistar alguém pela internet não
dá a emoção das respostas faladas, do olhar. #sqn no caso de Rafael. Entrevistar para fazer um perfil é
quase uma invasão. E eu fui invasivo para, seguramente, você leitor perceber o
quanto este jovem escritor é incrível.
Quais suas inspirações
literárias?
Tudo é literatura, logo, acredito
que qualquer coisa pode servir de inspiração. Acho que sou influenciado por
muitas coisas e por isso não rejeito nenhuma delas.
Por que escrever um livro?
“Porque não” é que deveria ser a
verdadeira pergunta. Gosto de pensar que a coisa que faço melhor na minha vida
– e também aquilo que me dá mais prazer – é contar histórias, é escrever. Então
desde que comecei a exercer esse meu lado escritor, nunca houve dúvida de que
escrever e publicar um livro seria um dos grandes objetivos da minha vida.
O que aconteceu contigo para que
as letras ganhassem corpo e se transformassem em um livro? Quem é você nesta
história?
Algumas pessoas já me vieram
pergunta o quanto autobiográfico esse livro é, e no começo eu achava que era
bastante. Sem falar que é inevitável ter um pouco do autor em cada personagem.
Mas a história inteira é uma mistura de lembranças, experiências pessoais e de
outras pessoas que eu também tive oportunidade de escutar. Ele é bem maior do
que a minha própria história. E como toda boa história, não há nada mais
natural do que ela se transformar, se perpetuar e se propagar pela palavra
escrita.
Por que um livro com temática
gay?
Não penso que seja um livro de
temática gay. Ninguém nunca chamou os romances de Jane Austen ou de Ernest
Hemingway de livros com temática heterossexual. Não foi só porque eu escolhi
contar uma história que envolve personagens gays ou que discute as dificuldades
atuais de ser gay que esse romance se resume a apenas isso. Há muitas outras
discussões e há um valor nessa obra que ultrapassa rótulos.
É fácil ser gay? Sofre ou sofreu
preconceito – na rua, na chuva, na sua casa? O que tirou de lição destes
momentos e colocou no livro?
Ser gay não deveria ser nem fácil
nem difícil. Deveria ser apenas isso: ser. Com todas as consequências que
vierem dessa realização. Mas obviamente não vivemos em mundo perfeito e ser gay
não é visto como uma coisa “natural”, então a discriminação ainda é muito
comum. Posso dizer que sofri preconceitos pela minha vida e aprendi muito com
essas situações. Todas as experiências e aprendizados do livro, porém, são
apenas daqueles personagens. Todos ali reagiram de uma forma completamente
única e própria de cada um.
Quem não te conhece, precisa
saber o que de você? E quem te conhece, mas você esconde um segredo –
qual é?
Que adoro escrever. E geralmente
nunca escondo nada. Conto tudo e compartilho demais.
Gosto de mostrar como é o
processo de escrita dos autores: qual é o seu? Como fez para escrever este
livro?
Atualmente estou meio errático
com meu processo criativo. Geralmente escrevo excertos que surgem do nada para
cenas e episódios que eu gostaria que existissem no meu texto. Guardo todas nos
seus respectivos arquivos e uma hora sento para completar os buracos e espaços em branco. Com o “Entre
Irmãos” era mais ou menos assim, com a diferença que o escrevi em uma época em
que tinha uma quantidade de tempo livre maior – estava na faculdade e apenas
estagiava. Então me educava a tirar um momento para escrever e reler o que eu
escrevi todos os dias. O plano é que eu volte a esse estado de organização
rapidamente!
O que te faz feliz? Por que sair
de Salvador? Não gosta do axé? Ou se cansou e agora prefere as baladas animadas
de São Paulo?
Ser – finalmente – escritor,
escritor mesmo, com nome na capa, biografia na orelha, me faz muito feliz. Saí
de Salvador porque ela parecia pequena para o que eu queria realizar, mas ainda
assim é uma cidade incrível e que faz parte de quem eu sou como pessoa. Não
posso dizer que sou fã de axé e atualmente troco qualquer balada animada de São
Paulo por um bom jantar, uma mesa de bar ou uma ida ao cinema.
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