Não estamos no período eleitoral, portanto a Lei não permite que se faça campanha para nenhum cargo político. No entanto, diante do que está ocorrendo no Congresso Nacional – a farra da pizza de todos os tamanhos e sabores -, irei fazer política, entrar no jogo. Por isso lanço a minha candidatura a qualquer cargo público em que eu ganhe foro privilegiado, não importa se é para o Senado, a Câmara ou a Assembleia Legislativa. O maior desejo é pertencer ao mundo dos cidadãos públicos, para legislar em causa própria e, após eleito, esquecer todas as promessas gritadas aos ventos nos comícios.
Antes de apresentar meu projeto de governo – pois a meta é chegar ao cargo máximo -, prometo que vou arrumar emprego para todos os meus parentes que vivem no ócio e não possuem qualquer habilidade. Como são aptos em fazer nada, vão ser bons assessores, especializados em medir e controlar o tempo de discursos vazios que já escrevi. Quando a tribuna estiver disponível, vou fazer elogios às realizações dos companheiros de partido, enumerar as qualidades dos colegas de oposição, mas que fazem parte da rede de relacionamentos, pois é preciso manter o trânsito entre todas as cadeiras.
Prometo também que todos os brasileiros, principalmente aqueles que conheço e são meus eleitores fiéis, terão investimento em saúde, habitação, segurança, turismo e educação, conforme determinam todas as organizações, como a Mundial de Saúde (OMS), a Unesco, e tantas outras. Para minha família, auxílio-moradia, já que levarei os parentes para Brasília e, com isso, também vão precisar de plano de saúde. Um dos melhores, já que saúde é prioridade para uma “vida boa”. E como vamos ser alvos de adversidades, teremos que contar com carros blindados, seguranças 24 horas, muros altos, que só as grandes residências possuem. Outro benefício são os momentos de descanso, afinal meses de férias, segundas e sextas sem nada para fazer no Planalto Central, merecem ser trocados por longas viagens. Ganham-se oito passagens para a “terra da Lei” (mas que parece não ter xerife). Entretanto é muito pouco. Vamos ampliar o número de bilhetes e melhorar o turismo brasileiro. Com isso, o ramo da gastronomia receberá novos investimentos. Privilégio de alguns, a verba de representação – dinheiro recebido para gastos com restaurantes, festas, viagens -, será estendida para as casas legislativas. Todos vão comer do ótimo e do excelente e nos melhores lugares, quem sabe naqueles indicados como tops pelas revistas especializadas.
Mas teremos mudanças significativas para os trabalhadores também, já que faremos o mercado da moda melhorar a economia nacional, com a geração de empregos e a venda de produtos e serviços: auxílio-paletó, auxílio-gravata, auxílio-camisa social, auxílio-abotoadoras, auxílio-sapato italiano.
E para encerrar o mandato, quero desfrutar da aposentadoria por tempo de serviço. Oito anos atuando como deputado é muito cansativo. São tantas reuniões, comissões, investigações, votações. Será preciso tempo para gastar a verba de gabinete, que até a próxima eleição já terá sido acordada entre meus futuros colegas de profissão. Vote em quem fará algo pelo Brasil! Eu prometo! Mas com a mesma indignação de tantos milhões de eleitores que não podem votar no aumento do próprio salário.
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