Algumas histórias instigam à
leitura desde o trecho escrito na orelha do livro. Uma capa elaborada, o comentário
na contracapa. Normalmente, escolhe-se uma obra assim, por estes motivos. Ou muitas
vezes pela fama do autor. No caso de Entre Irmãos, de Rafael Farias Teixeira,
publicado pela editora Multifoco, o enredo é o atrativo: a convivência de Maurício,
Fernando e Beatriz, irmãos diferentes, unidos pelo sangue e por segredos.
A morte de Maurício gera
conflitos e esclarece as diferenças dos personagens, cujas trajetórias de vida
são semelhantes à de uma família que encara a aceitação de um filho assumido
homossexual. O texto é vendido desta maneira, uma literatura GLS, mas não é
restritivo ao público gay, mesmo diante de alguns capítulos que mostram a
sexualidade intensa de Fernando, um jovem publicitário que sai de casa por
causa das brigas com seu irmão mais velho e com os pais.
Entre Irmãos possui uma narrativa
quase poética contemporânea, ou seja, um texto livre, frases curtas, com
versos, sem rimas, numa sequência gostosa de ler, porque estimula a
curiosidade. É um livro que mostra a aceitação e a vida de um gay, os ciúmes
dos irmãos pela preferência dos pais, os mistérios escondidos entre as paredes
do lar e, sobretudo, as nuances do amor.
Os personagens Maurício, Beatriz
e Fernando se revelam com a presença de Ricardo, um homem misterioso que
aparece na trama, no leito de morte do seu melhor amigo – Maurício. Ricardo
provoca reviravolta na vida dos três.
Contudo, é uma frase de Maurício,
que dá o detalhe para esta intriga: como narrador, ele conta que “essa é a história
do que acontece com minha morte e depois dela. Essa é uma história de irmãos. E
minha participação é bem maior do que parece”. Isso é o clímax.
Só que em alguns momentos, a leitura excita. Denota pensamentos eróticos. Porém, isso é um mero jogo de palavras para levar o leitor à reflexão. Quando Fernando descreve o que pensa sobre o amor ele revela sua fragilidade, mesmo fingindo que agüenta a situação do ser gay, sendo um touro indomável e forte, e tendo que enfrentar o preconceito dentro de casa, na rua, dele próprio.
Destacam-se estas palavras: “As
pessoas sempre planejam amar. Mas, quando o amor realmente chega, ninguém tem
muita ideia de quais serão seus planos. Eu sempre presumi que eu precisava me
apaixonar desesperadamente de todas as pessoas com quem criei algum tipo de
relacionamento. Eu precisava amar porque não seria justo ficar com uma pessoa
sem o fazer...Eu tenho estas imagens de como deveria ser ter um grande amor, um
grande e único amor que faria todas aquelas princesas sossas da Disney morrerem
de inveja...Amor não foi feito para pessoas como eu, porque simplesmente tudo não
passa de ideias perfeitas que sobrevivem de tramas elaboradas demais, da nossa
própria imaginação, e fora, no mundo real, murcham, contraem-se e gritam
estridentes até desaparecerem deixando mágoas.”
Este livro desnuda o amor. E que
ele mata. Provoca a morte, quando não se está preparado para o sentimento mais
nobre do humano. Amor não é apenas final feliz de novela. Entre Irmãos é
revelador, cheio de lágrimas, de tristeza, no entanto, traz esperança para
aqueles que estão em busca de paz. Na vida, na casa, no pensamento, no amor. Leitura
sem diversidade sexual. Conto para virar filme.
O autor
Rafael Farias Teixeira nasceu em
Salvador, na Bahia, em 1986. Jornalista, já escreveu para as revistas Galileu,
Época São Paulo e Pequenas Empresas & Grandes Negócios. “Entre Irmãos” é o
seu primeiro romance publicado, que também está no facebook.
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