domingo, 13 de setembro de 2015

O SEGREDO DE CECÍLIA MEIRELES

Cecília Meireles: será que é verdade?

            Era domingo. Um calor de queimar os miolos até debaixo das sombras. E as horas não passavam das nove da manhã. Apesar dos olhos abertos, o sono dominava os pensamentos. Havia uma letargia nas atitudes, porém uma dúvida instigava a curiosidade: Uberaba – qual a origem do nome dessa cidade? Na infância, passei bons momentos nesse pedaço de terra do Triangulo Mineiro, mas não havia feito tal pergunta. Uns vinte e cinco anos depois, estava visitando a região novamente. Infelizmente, foi por pouco tempo. Na noite anterior celebramos o casamento da minha prima Carol. Enquanto os convidados ainda dormiam depois de entusiasmada festa, meu horário de retorno para casa estava próximo. Ali, no Aeroporto Mário de Almeida Franco, tive um encontro inusitado.

            Na sala de embarque, procuro um ponto de energia para carregar o celular. Ao lado de um deles, há um casal conversando animadamente. Reconheço. São duas celebridades da literatura nacional. Não tenho reação. Sentimento de fã. Fiquei estático. Nélida Piñon, uma imortal da Academia Brasileira de Letras, olha para mim e exclama: “você é escritor?”. Apontei para o peito, desacreditado que o destinatário da indagação seria este mero mortal que aqui escreve: “eu?”. Ela balançou a cabeça afirmativamente. “Eu tento ser, Nélida”, respondi com intimidade e envergonhado. “Então você já é, pois se já tem vontade, já está no espírito”.

Encontrar com os dois num bate-papo foi um aprendizado 

            Em segundos, fiz um balanço no cérebro: “será que ela é vidente? Olhou na minha direção e vislumbrou os sentimentos que tenho no coração? A grande escritora, sem saber quem eu era, com carinhosas palavras de incentivo para mim? Logo eu que, realmente, almejo ser um escritor?”. Fiquei emocionado, agradeci o estímulo e repliquei: “Nélida, tenho como exemplo este grande sujeito. Quero ser como ele”, apontei para o jornalista Xico Sá, sentado na outra cadeira. “Você tem um mestre, meu jovem. Xico é um dos melhores”. Ele sorriu. O papo fluiu.

            Nélida contou várias histórias: do amigo que era fã de Greta Garbo; dos mineiros que são ótimos contistas; da admiração que ela tem pelo jornalista e escritor, daqui das Gerais, Carlos Herculano Lopes; das viagens que ela fez para receber e para entregar prêmios; do livro O Vampiro de Curitiba, de Dalton Trevisan (que, por coincidência, eu havia comprado na semana anterior); do Festival Literário de Araxá (de onde eles estavam retornando); de um mistério da escritora Cecília Meireles. “Todo mundo achava que ela tinha um sotaque carregado, voz forte, mas Cecília tinha a língua presa”, relatou às gargalhadas. Tive uma aula de conhecimentos gerais em apenas uma hora. Embarcamos. No avião, eu na poltrona 7A, Nélida na 7D, Xico na 7C. Seria o destino dizendo: “os escritores na mesma direção?”.

Estou cheio de alegria por esse momento especial. Aprendi que para ser um grande escritor é preciso ser curioso, saber de tudo, falar de tudo. Logo, fui fazer o dever de casa. Antes do voo, recorri à Internet para descobrir que o topônimo "Uberaba" é o nome de um rio do município, que se originou do termo tupi Yberaba, que significa "água brilhante", pela junção de y (água, rio) e berab (brilhante).
Sinceramente? Foi um fim de semana brilhante.

Leia mais:
* No site Bastidores da TV fiz uma crônica sobre um livro de Xico Sá.

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