domingo, 1 de novembro de 2015

SÓ DÁ PARA VER À TARDE


O fenômeno do pôr do sol sempre me fascina. É a parte do dia que mais me emociona, principalmente, por causa das cores que pintam o céu. São tons de laranja, vermelho, azul, rosa, tantas colorações que se misturam, que vão surgindo entre as nuvens, que formam um universo de informações para a imaginação. Ao admirar o espetáculo que dá início à noite, é inevitável ficar brincando de adivinhação: o que é aquele desenho? Quais os segredos estão escondidos além do horizonte? Como surgem tantas cores? Um momento fértil para descansar a mente após tanto labutar...

Na caminhada pelo destino, procuro estar atento ao entardecer dos lugares por onde vou, mas sentimentalmente fico envolvido com o pôr do sol de Bom Despacho, pois, afinal, foi aqui que tive a primeira experiência. Recordo-me do cenário que se formava atrás da minha casa no bairro Jardim América, um lugar descampado, sem interferências urbanas, com a siderúrgica ao longe, as poucas construções no bairro São Vicente, a Igreja do Rosário à direita. E em cada estação, algo diferente acontecia por volta das dezoito horas. 

Era um teatro livre, com personagens diversos. Uma época, as garças, os periquitos e as andorinhas buscando repouso. De vez em quando, as cigarras cantarolavam suas paixões para o acasalamento. Nas férias e nos meses de vento, pipas traziam outras cores ao céu. 

Como antigamente não havia celulares e seus acessórios, privilégio era poder comprar cartões postais vendidos na Banca do Peninha, de momentos registrados pelo Wilson Fotógrafo. Se existia uma imagem marcante da Cidade Sorriso para ser enviada pelo correio aos amigos certamente era a do pôr do sol com a Igreja da Matriz imponente como destaque da foto. Assim era o nosso turismo. 

Essa lembrança veio no sábado passado, quando fui visitar meu primo Paulinho - filho dos tios Agripino e Rita, essa irmã do meu avô Francisco - e sua esposa Maria, que moram no Edifício Bom Despacho. Na varanda do apartamento, olhando para o prédio da Xuá, as cores da primavera mais quente dos últimos tempos faziam o espetáculo. Uma única nuvem se destacava num conjunto de nuances de um amarelo intenso. Do ângulo em que eu estava, a tecnologia das antenas parabólicas se misturava à natureza. Fiz uma foto. Essas mesmas luzes refletiam no branco da Matriz. Infelizmente, uma imagem que a câmera do meu celular não foi capaz de registrar, mas que ficará na memória por meio dessas palavras que dedilho aqui. 

Mostrei a foto a um amigo que disse: “antenas para roça”. Não entendi e fiquei ofendido acreditando que ele estava chamando Bom Despacho de roça. Logo ele explicou o comentário. Quando era criança, Fábio que nasceu na região metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, foi visitar Mutum, uma pequena cidade do interior de Minas, onde havia várias antenas parabólicas. Para ele, ir lá era sair da capital e visitar o campo. Sua mãe contou o que era aquele aparato de arames e para o que servia. Porém, o menino entendeu o nome errado e ouviu: antena para – roça, já que nunca tinha visto algo daquele jeito em sua cidade. Rimos muito do “causo” capixaba relembrado devido ao “causo” mineiro.  

Histórias do entardecer...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin