Dentro do armário, debaixo da
cama, atrás da porta, escondido na floresta, sob as sombras, o medo está.
Escondido, oculto, provocante. Do frio escaldante, do verão chuvoso, da neblina
negra. Pavor de palhaço, angústia da solidão, repugnância de barata. Aversão ao diferente, temor a Deus, receio de
mudança.
Sinônimo, antônimo, vício. Tantas
classificações linguísticas. Dicionário traz muitas: fobia, pânico,
inquietação. E tem mais: ojeriza, ansiedade, incerteza. O que apavora? O que
desagrada? Como definir medo? Alguns definem preocupação. Outros dizem horror.
Para mim, terror.
Explique terror assim. Use apenas
palavras. Poucas, eu diria. Eu fui desafiado: descreva uma história: com três
termos, com três palavras, com três partes. O desafio começou. Receio um
acontecimento, misto de emoções, uma coisa engraçada, algo muito divertido, uma
colcha retalhada, um texto diferente. Somente três palavras? Repulsa, dúvida, palpitação. O que farei?
Como pensar divisões, escrevendo com simplicidade, colocando termos conectados?
Suspiro, penso, relato: uma história aterrorizante? Somente três palavras...
A internet ajudou. O mundo
contribuiu. Essa crônica nasceu. Apenas frases pequenas. Os ajudantes expondo:
cada um relatou. Relato de medos, relato de desconfianças, relato de temores. Pé-atrás
para responder, dedos nervosos digitando, curiosidade no resultado. Qual seu
terror? E assim foi:
Terror no bar: “Oh Senhor Deus! Acabou o papel, diria no
banheiro”.
Terror no carnaval: “Oh Nossa
Senhora! Acabou a cerveja”, reclama a cliente. “Só era isso?” O desavisado
exclamou: “Furou a camisinha”. Era uma vez...
Medo no relacionamento: olho no
olho. Face a face. Lágrimas, dores, descendo. A mulher abandonada, aquela ali
largada, deixada por outra. Ouvia do parceiro: “não te amo”, “não te quero”,
“saia de mim”, “não me abrace”, “não tem volta”, “detesto seu beijo”, “suma
para sempre”, “arrume a mala”.
Medo no trabalho: quinto dia
útil, passa no RH, cancelaram as férias. Médico não veio. O viaduto caiu. O
personagem desmarcou. Não há vagas. Seu destino, rua. Caiu meu salário. Cliente
não aprovou. Conserta na costureira. Promissória não paga. Não há saldo. Cartão
não passa.
As datas comemorativas, dia de
aniversário, a lembrança passada, celebração dos mortos, as bruxas soltas. A
melancolia diária, falta de objetivo, o destino incerto. Tudo causa terror.
Como se sente? Seu coração treme? Sua alma chora? Seu corpo padece? Qual a
reação? Diante do terror, como você age? E assim continua...
Imagine a cena. Todo mundo
reunido. Na sala, no trabalho, na balada. Assim falam contigo, dão as notícias,
expressam os sentimentos. Seriam as boas? Ou seriam desagradáveis?
- Surpresa! Feliz aniversário.
- Natal está chegando. Vai ter
salpicão. Colocaram uva-passa nele.
- Não tenho dinheiro. Roubaram
minha carteira. Com meu celular.
- Acabou o bolo. Cerveja está
quente. Chamaram a polícia.
- Ele está morto! Perdi um amigo.
- Em casa conversamos. Não
declaro nada. Cala sua boca. Não vi nada.
Fizeram sacanagem comigo.
Escrever dessa maneira? Desafio foi cruel, mas passei bem. Três momentos bons: pensar, redigir,
refletir. Palhaço do mal, acabou a água, fim do papel.
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