domingo, 20 de novembro de 2016

EM TRÊS PALAVRAS


Dentro do armário, debaixo da cama, atrás da porta, escondido na floresta, sob as sombras, o medo está. Escondido, oculto, provocante. Do frio escaldante, do verão chuvoso, da neblina negra. Pavor de palhaço, angústia da solidão, repugnância de barata.  Aversão ao diferente, temor a Deus, receio de mudança.

Sinônimo, antônimo, vício. Tantas classificações linguísticas. Dicionário traz muitas: fobia, pânico, inquietação. E tem mais: ojeriza, ansiedade, incerteza. O que apavora? O que desagrada? Como definir medo? Alguns definem preocupação. Outros dizem horror. Para mim, terror.
 
Explique terror assim. Use apenas palavras. Poucas, eu diria. Eu fui desafiado: descreva uma história: com três termos, com três palavras, com três partes. O desafio começou. Receio um acontecimento, misto de emoções, uma coisa engraçada, algo muito divertido, uma colcha retalhada, um texto diferente. Somente três palavras?  Repulsa, dúvida, palpitação. O que farei? Como pensar divisões, escrevendo com simplicidade, colocando termos conectados? Suspiro, penso, relato: uma história aterrorizante? Somente três palavras...

A internet ajudou. O mundo contribuiu. Essa crônica nasceu. Apenas frases pequenas. Os ajudantes expondo: cada um relatou. Relato de medos, relato de desconfianças, relato de temores. Pé-atrás para responder, dedos nervosos digitando, curiosidade no resultado. Qual seu terror? E assim foi:

Terror no bar:  “Oh Senhor Deus! Acabou o papel, diria no banheiro”.

Terror no carnaval: “Oh Nossa Senhora! Acabou a cerveja”, reclama a cliente. “Só era isso?” O desavisado exclamou: “Furou a camisinha”. Era uma vez...

Medo no relacionamento: olho no olho. Face a face. Lágrimas, dores, descendo. A mulher abandonada, aquela ali largada, deixada por outra. Ouvia do parceiro: “não te amo”, “não te quero”, “saia de mim”, “não me abrace”, “não tem volta”, “detesto seu beijo”, “suma para sempre”, “arrume a mala”.

Medo no trabalho: quinto dia útil, passa no RH, cancelaram as férias. Médico não veio. O viaduto caiu. O personagem desmarcou. Não há vagas. Seu destino, rua. Caiu meu salário. Cliente não aprovou. Conserta na costureira. Promissória não paga. Não há saldo. Cartão não passa.

As datas comemorativas, dia de aniversário, a lembrança passada, celebração dos mortos, as bruxas soltas. A melancolia diária, falta de objetivo, o destino incerto. Tudo causa terror. Como se sente? Seu coração treme? Sua alma chora? Seu corpo padece? Qual a reação? Diante do terror, como você age? E assim continua...

Imagine a cena. Todo mundo reunido. Na sala, no trabalho, na balada. Assim falam contigo, dão as notícias, expressam os sentimentos. Seriam as boas? Ou seriam desagradáveis?

- Surpresa! Feliz aniversário.

- Natal está chegando. Vai ter salpicão. Colocaram uva-passa nele.

- Não tenho dinheiro. Roubaram minha carteira. Com meu celular.

- Acabou o bolo. Cerveja está quente. Chamaram a polícia.

- Ele está morto! Perdi um amigo.

- Em casa conversamos. Não declaro nada. Cala sua boca. Não vi nada.

Fizeram sacanagem comigo. Escrever dessa maneira? Desafio foi cruel, mas passei bem. Três momentos bons: pensar, redigir, refletir. Palhaço do mal, acabou a água, fim do papel.  

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