Foi um dia normal. Acordei, higiene
pessoal, café da manhã em pé, correria para sair de casa. Aula dada, despachos
na TV Alterosa. Fugidinha da rotina do trabalho para procurar as promoções da
tão esperada Black Friday na internet. Não encontrei nada de atrativo, pois
estava focado em comprar uma geladeira. Mês passado, conferi o preço: R$
2.199,00, mas esperei o dia mundial de descontos com a esperança de pagar
menos. O modelo do meu desejo ganhou um novo valor: R$ 2.091,00. Não me
surpreendeu, já que a data, no Brasil, nem sempre representa reduções
significativas. Frustrado, contudo com dinheiro no bolso, já que ainda anseio
que a bondade do natal possa ajudar na minha compra. Lar doce lar. Pausa para
acompanhar as notícias com calma.
A surpresa do dia foi a morte irônica do
maior líder comunista, Fidel Castro. O ditador cubano, ícone do socialismo,
bateu as botas em uma data em que os consumidores piram nas ofertas das lojas.
Surtam, literalmente. No jornal, imagens das pancadarias, da luta pelas caixas
anunciadas com descontos. A fúria estava nos olhos e nos gestos. Cenário das
arenas onde gladiadores matavam para sobreviver. Mesmo consternado pela falta
de educação do povo, diverti-me como se estivesse na plateia do Coliseu de
Roma, ansioso para ver o sangue escorrer a cada promoção anunciada. Agressões,
filas, empurra-empurra, fiquei aliviado por não precisar de nada nesse dia.
Contudo, tiver que ir às compras no sábado. Seria meu Black Saturday. Contaram-me
que nas Lojas Americanas, alguns CDs estavam valendo R$ 5,00, afinal, também
tenho veia consumista.
Na longa espera para pagar os produtos que
adquiri, ri muito de uma compradora que empacou no caixa. Ela telefonou para
diferentes pessoas dizendo que o conjunto de panelas estava na oferta. Comprou quatro,
um para cada parente. A cada ligação, saía correndo rumo às prateleiras. Ia e
voltava buscando os produtos como uma maratona de corrida. Levou jogos com seis
copos também. Uns cinco. A balconista estava ficando doidinha. A irmã da
consumidora iria pagar a conta, passando o valor no cartão de crédito. Antes de
emprestar o dinheiro de plástico para a “maninha”, questionou porque ela estava
comprando cinco embalagens de shampoo de 500 ml, se o cabelo dela era curto e
aquele produto não era bom. Sem pestanejar respondeu à irmã: “Está barato,
estou precisando e esse shampoo é ótimo porque o meu cabelo é bom. Não é essa
bucha que é o seu cabelo”. A mulher ainda pagou calada o luxo da outra, que
pediu para parcelar R$ 312,00, em 12 vezes. Dívida até a próxima Black Friday.
Em outra loja, comprei um lençol. Não
consegui segurar a gargalhada por causa das loucuras que acontecem nesses dias
de consumo extremo. A senhora do caixa não estava entendendo um código da
compra da freguesa. Enfurecida com o desleixo da vendedora, ela gritava
histericamente: “Celma, venha aqui resolver o problema da sua cliente”. O grito
foi ouvido em todo o estabelecimento. “Ceeeeeeeelllmaaaaaaaa”. Berrou
novamente. “Vou dar na sua cara se não vier aqui no caixa arrumar sua bagunça”.
A cliente arregalou os olhos. Ficou roxa de vergonha. Eu não contive os risos
com a paciência de Celma que desfilou calmamente até o caixa. Nem se abateu com
o escândalo. Ri até chorar. Acho que foi de nervoso, de fome, por causa da
véspera do horário do almoço. Cada um tem a sexta-feira negra que merece. A
minha foi muito divertida.
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