quarta-feira, 30 de novembro de 2016

SEXTA-FEIRA BLACK


Foi um dia normal. Acordei, higiene pessoal, café da manhã em pé, correria para sair de casa. Aula dada, despachos na TV Alterosa. Fugidinha da rotina do trabalho para procurar as promoções da tão esperada Black Friday na internet. Não encontrei nada de atrativo, pois estava focado em comprar uma geladeira. Mês passado, conferi o preço: R$ 2.199,00, mas esperei o dia mundial de descontos com a esperança de pagar menos. O modelo do meu desejo ganhou um novo valor: R$ 2.091,00. Não me surpreendeu, já que a data, no Brasil, nem sempre representa reduções significativas. Frustrado, contudo com dinheiro no bolso, já que ainda anseio que a bondade do natal possa ajudar na minha compra. Lar doce lar. Pausa para acompanhar as notícias com calma.

A surpresa do dia foi a morte irônica do maior líder comunista, Fidel Castro. O ditador cubano, ícone do socialismo, bateu as botas em uma data em que os consumidores piram nas ofertas das lojas. Surtam, literalmente. No jornal, imagens das pancadarias, da luta pelas caixas anunciadas com descontos. A fúria estava nos olhos e nos gestos. Cenário das arenas onde gladiadores matavam para sobreviver. Mesmo consternado pela falta de educação do povo, diverti-me como se estivesse na plateia do Coliseu de Roma, ansioso para ver o sangue escorrer a cada promoção anunciada. Agressões, filas, empurra-empurra, fiquei aliviado por não precisar de nada nesse dia. Contudo, tiver que ir às compras no sábado. Seria meu Black Saturday. Contaram-me que nas Lojas Americanas, alguns CDs estavam valendo R$ 5,00, afinal, também tenho veia consumista.

Na longa espera para pagar os produtos que adquiri, ri muito de uma compradora que empacou no caixa. Ela telefonou para diferentes pessoas dizendo que o conjunto de panelas estava na oferta. Comprou quatro, um para cada parente. A cada ligação, saía correndo rumo às prateleiras. Ia e voltava buscando os produtos como uma maratona de corrida. Levou jogos com seis copos também. Uns cinco. A balconista estava ficando doidinha. A irmã da consumidora iria pagar a conta, passando o valor no cartão de crédito. Antes de emprestar o dinheiro de plástico para a “maninha”, questionou porque ela estava comprando cinco embalagens de shampoo de 500 ml, se o cabelo dela era curto e aquele produto não era bom. Sem pestanejar respondeu à irmã: “Está barato, estou precisando e esse shampoo é ótimo porque o meu cabelo é bom. Não é essa bucha que é o seu cabelo”. A mulher ainda pagou calada o luxo da outra, que pediu para parcelar R$ 312,00, em 12 vezes. Dívida até a próxima Black Friday.


Em outra loja, comprei um lençol. Não consegui segurar a gargalhada por causa das loucuras que acontecem nesses dias de consumo extremo. A senhora do caixa não estava entendendo um código da compra da freguesa. Enfurecida com o desleixo da vendedora, ela gritava histericamente: “Celma, venha aqui resolver o problema da sua cliente”. O grito foi ouvido em todo o estabelecimento. “Ceeeeeeeelllmaaaaaaaa”. Berrou novamente. “Vou dar na sua cara se não vier aqui no caixa arrumar sua bagunça”. A cliente arregalou os olhos. Ficou roxa de vergonha. Eu não contive os risos com a paciência de Celma que desfilou calmamente até o caixa. Nem se abateu com o escândalo. Ri até chorar. Acho que foi de nervoso, de fome, por causa da véspera do horário do almoço. Cada um tem a sexta-feira negra que merece. A minha foi muito divertida. 

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