segunda-feira, 7 de setembro de 2015

TROCA DE CADEIRA

       
Você já refletiu sobre os hábitos que vamos cultivando no dia a dia e como eles podem fazer mal quando algo acontece diferente do que estava previsto? Se sim, espero que goste deste texto. Se não, desejo que esta crônica contribua para que você “saia do casulo” do comodismo, porque é isso que está me motivando neste momento, em que estou buscando algumas mudanças.

Gosto muito da história dos japoneses que vieram para o Brasil na época da liberação de terras para os estrangeiros, quando a escravidão terminou por aqui. Fico pensando na ousadia e na coragem dos imigrantes que arriscaram uma vida confortável e segura no próprio país em busca de um sonho, que nem poderia se concretizar, em um lugar desconhecido, distante e com uma geografia completamente diferente do Japão. Naquele tempo, tudo era incerto. Não havia a deusa Internet e o santo Google para ajudar na busca de informações e mesmo assim os “japas” subiram nos navios, viajaram muitos dias até avistarem a paisagem já conhecida por Cabral, onde tudo que se planta nasce. Conhecer esse momento mudou alguns rumos que tento trilhar.

Esse determinismo sempre me estimula, quando quero fazer algo diferente da minha rotina. Claro que é muito mais cômodo cumprir diariamente os mesmos trabalhos, percorrer os mesmos caminhos, conviver com quem já conhecemos os defeitos e as manias. Obviamente, isso é fácil e torna a existência mais serena. Contudo, viver assim é muito sem graça. É monótono demais.  Por isso, acredito que há momentos em que é preciso dar uma sacudida nos afazeres, mudar o corte de cabelo, trocar o estilo das roupas, viajar. Tem gente também que troca de emprego, muda de cidade, termina relacionamentos.  Se a atitude for positiva e nos fazer felizes, devemos encarar, mesmo que haja um pouco de dor.

Dias atrás, estava hospedado em um hotel, aproveitando as férias, quando me surpreendi criando um costume rotineiro: eu estava me sentando na mesma mesa, na mesma cadeira, na mesma posição, em todos os cafés da manhã, comendo as mesmas iguarias servidas no cardápio. No quinto dia, quando cheguei ao salão, tive que escolher outro lugar, pois o “meu trono” já estava ocupado. Aquilo me deu uma angústia momentânea, mas logo voltei para a realidade me questionando que ter aquele sentimento era uma bobagem.  Sentei-me numa mesa mais afastada e tive uma surpresa, pois a cadeira era mais confortável, os garçons passavam com mais frequência, os outros hóspedes não esbarravam e era possível assistir à televisão.

Um filme passou na cabeça, sobretudo das lembranças dos territórios que demarquei ao longo dos anos que tenho de estrada pela vida. Na escola, era aquele banco, debaixo da árvore que dava sombra; no ônibus que liga Bom Despacho a Belo Horizonte, a mesma poltrona; em casa, o prato azul, o garfo com cabo de madeira, o copo de requeijão, o canto direito do sofá; na sorveteria, o sorvete era de abacaxi; para divertir, os mesmos discos; e por aí vai.

Ainda bem que me contaram a saga dos japoneses. A partir disso, passei a querer novidades. Sou ansioso para aventuras, para novas emoções, para conhecer gente, para colocar a mochila nas costas e sair descobrindo culturas. Eu prefiro estar preparado para o inusitado, ter sempre um plano “B”, e ir curtindo a rotina na medida do possível. Quando o comodismo me pega, busco inspiração na coragem dos “olhinhos puxados”. Acho que eles enxergam longe.

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