sábado, 15 de agosto de 2015

VERDADES SECRETAS


No quintal, a goiabeira estava verde, carregada de flores, contrariando a seca persistente em Bom Despacho. Alguns frutos começavam a despontar nas galhas mais altas. Vislumbrando a energia da árvore, admirado com sua força para enfrentar o destino do clima carregado do inverno que estava com temperaturas elevadas, encontrei duas suculentas goiabas, prontas para serem colhidas. Frutas sem agrotóxico, com a cor bem esverdeada na casca, supostamente vermelha e doce por dentro em razão de outras semelhantes colhidas no passado, puras, demonstrando o poder da natureza que alimenta o homem. Escondidas entre as folhas, elas ocultavam outros segredos além do sabor.
  
Não poderiam ser comidas naquele momento, sem um ritual de prazer gustativo, uma vez que eram goiabas caseiras. Alguns podem não dar valor a essa simples fruta tropical, encontrada com facilidade em qualquer casa que possui um pedaço de terra. No entanto, para quem mora onde o asfalto predomina, e o “pomar” mais próximo fica dentro de um supermercado, aquelas goiabas traziam sentimentos. Sem contar que na banca o preço informado na balança está inflacionado. Guardei-as para num dia em que o café da manhã fosse como aqueles que experimentamos em hotéis.

O cenário estava perfeito no sábado. Variedade à mesa: mamão, banana, goiaba, pão australiano, presunto, bolo indiano, suco e café. Deixei a goiaba por último. O primeiro pedaço levado à boca pela faca estava perfeito; senti aquele gosto azedo-doce-cítrico e revirei os olhos, tamanho prazer em degustar o fruto que guardei por uma semana na geladeira. O mesmo gesto foi repetido até chegar à metade daquela goiaba cultivada com tanto zelo nos fundos da casa da minha mãe. Não houve o último pedaço, aquele que deixamos para provar com mais vontade, pois o resto fora aproveitado pelos bichos. Que decepção! Um fruto primoroso por fora, estragado por dentro. Não havia nenhum sinal externo que indicasse aquela porção podre.

Naquele momento, observando os bichos já fartos e mortos – provavelmente pela gula e pelo frio da geladeira-, fiquei pensando em Eva e Adão que aceitaram experimentar o fruto proibido. Foram enganados pela promessa de delícias e caíram nas tentações desconhecidas no paraíso. Analogamente, vieram aos pensamentos algumas pessoas que se assemelham àquela goiaba. São lindas, saudáveis, encantadoras, na casca. Ocas, ruins, podres, na polpa. Sobretudo, na essência.

Infelizmente somos cercados por seres humanos obscuros, de mistérios, de maldades. Educados no trato diário e bondosos aos padrões sociais, mas que são invejosos nos abraços apertados, nas declarações elogiosas que possuem nas entrelinhas algo espinhoso e com duplo sentido, e nas aproximações carinhosas disfarçadas de interesses desonestos. Infelizmente, nem toda goiaba é essencialmente verdadeira.
  
Elas podem estar muito próximas, ali no nosso quintal dos relacionamentos – dos amorosos, dos fraternos ou dos amigáveis. Dificilmente, percebemos suas reais intenções, já que elas fingem a beleza externa, e que a gente aceita normalmente, sem desconfiar que algo está errado. Porém, elas usam máscaras para esconder a personagem invisível, que possui um coração cheio de mágoa, de rancor, de escuridão. Torço para que tenhamos menos goiabas estragadas na fruteira chamada vida. 

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