quinta-feira, 26 de março de 2015

A POLÊMICA BOLA DE CARNE



A estufa de salgados estava vazia no bar, que vendia de tudo. De vara de pescar a arroz a granel, de linha de costura a frango vivo. Ninguém saía insatisfeito dali, porque o dono era o típico brasileiro do jeitinho. Vendia até avião caindo.

O cliente, com fome, pediu que servissem qualquer coisa comestível que estivesse à venda. Júlio conferiu a panela de pressão que esquentava na cozinha improvisada nos fundos. Duas porções de carne boiavam no molho de tomate. Preparou-as com pão de sal picado, servindo a mistura num prato raso. Os olhos do comprador engoliram a comida com satisfação. Por causa da dor na barriga vazia, antes que a refeição simples esfriasse, o homem devorou até o caldinho, deixando o vasilhame mais limpo do que se estivesse lavado. “Que almôndega gostosa”, falou alto para aqueles que bebiam no balcão e para todas as mesas ouvirem o elogio. E a maioria escutou a exclamação do sujeito que certamente não morava por aquelas bandas. É característico dos moradores da cidade repararem em quem é “de fora”.

O dono do estabelecimento, contador de histórias, rapidamente colocou alguns na prosa, levantando a polêmica: “meu amigo, aqui em Bom Despacho, essa porção se chama bola de carne, um tira-gosto comum em todos os botecos da cidade. Pergunte para o Juliano Coxinha, que frequenta vários e sabe disso”. Este, que estava encostado no balcão, ouviu e, mastigando o petisco, só levantou o braço, concordando com um sinal de joia.

O policial Renato Andrade, do lado, respondeu: “é bola”. De repente, o assunto se espalhou nas conversas. Lá no canto, Miguel Delgado deu uma explicação no estilo linha do tempo: “quando eu era criança, chamávamos de pelota. Na juventude, nos botecos da vida, fui apresentado às bolas de carne. Mais tarde, adulto, descobri que isso aí se chamava almôndega nos comércios mais finos. Rosa Maria, na mesma mesa, concordou, mas fez piada: “não importa o nome, eu gosto é de comer com muita cerveja gelada”, revelou, dando uma gostosa risada.

Frequentado por diferentes grupos, o Bar da Eskina, na Avenida das Palmeiras, era local de passagem de muita gente da Cidade Sorriso. E, naquele dia, estava lotado. Enquanto beliscavam e bebericavam, a enquete do nome da bola de carne era o tema da noite. Uns foram enfáticos: “bolinha de carne”. Outros eram da turma que concordava com o fulano provocador do falatório. “É almôndega, porque tem molho”. Alexandre Nunes, da Pracinha do bairro Santa Ângela, gritou o nome italiano: “é porpeta”. Emiliana Santos, também do Santa Ângela, Renata Correa, do bairro São Vicente e o dentista Joene Campos concordaram que era pelota. Margarida Azevedo, cunhada do dono do bar, estava silenciosa, ouvindo o debate, mas resolveu opinar: “almôndega é mais agradável. Pelota fica parecendo doença de pintinho”. O povo riu. E continuou rindo quando o médico Dr. Murilo Oliveira emendou: “boi moído empelotado”.  “Ah!”, exclamaram duas amigas alegrinhas. “Se o boi for frito, vira quibe”. Mais gargalhadas.

Adentrando a madrugada, mesas vazias, a confusão quase no fim, André Rocha lembrou: “se a almôndega estiver dentro de um pão de queijo, o nome é X-Federal, o melhor tira-gosto do Bar do Federal”. Um bêbado esquecido pelos amigos só suspirou: “ô trem bão, sô...”

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