Com um peculiar vocabulário, Bom Despacho é um celeiro de expressões linguísticas significativas, engraçadas e até estranhas para quem chega por lá. Provavelmente, a língua da minha terrinha tem origem na salada de sua formação étnica, que tem raízes portuguesas, indígenas, africanas, alemãs, austríacas e outras de que desconheço os antepassados. Nunca saberei ao certo quem dormiu com quem nas antigas fazendas do Alto São Francisco (com certeza, nem nas atuais, mas não gosto de fofocas e isso é assunto para outras crônicas). Contudo, essa mistura rende, pelo menos, uma história com bons ingredientes.
Uma confusão se dá quando pedimos suco de laranja ou laranjada nas lanchonetes. Comumente, na Cidade Sorriso, sempre ouvi e repeti que a bebida é laranjada – só a fruta espremida. Porém, em outros lugares do Brasil, os garçons me olham assustados, respondendo: você quer que coloque água? Eu sei a diferença, só que ainda não me acostumei a aceitar que laranjada tem água e açúcar e suco de laranja só tem a polpa. Gosto de falar laranjada, mesmo sendo alvo de risos irônicos. Azar! E dou de ombros para essa chatice boba. Afinal, em minhas raízes, o dicionário contém muita expressão “cenosa”.
Fiquei pensando em outras palavras relacionadas ao mundo dos líquidos bons para a saúde. Por isso, pergunto: por que não dizemos melanciada, maracujada, goiabada? A essas frutas devemos adicionar água para que se transformem em suco, não é mesmo? Então pergunto: por que nos cardápios são vendidos sucos de melancia, de maracujá e de goiaba? Ou seja, frutas misturadas com H2O. Se tem água, a denominação deveria ser diferente. Tem algo estranho nisso...Com o limão, podemos até fazer piada, pois o azedinho sem água é suco de limão – que dificilmente ingerimos puro. Na gramática, limonada é a composição por aglutinação, ou seja, acontece quando em uma palavra formada pela união de termos, um deles perde um ou mais fonemas, sofrendo, assim, uma mudança em sua pronúncia. Dividindo o vocábulo temos limão + nada, o que quer dizer: muita água e limão, nada.
Falar dessas loucuras da Língua Portuguesa deu sede e trouxe lembranças. Pelejei para recordar o nome do Levi das Laranjas, que deixava a Praça da Matriz perfumada com sua máquina de descascar. Cheiro bom, cheiro da minha infância. Ele trabalhava em frente ao Banco do Brasil, de sol a sol, provocando nossas papilas gustativas. Tinha laranja pêra, bahia, serra d’água. Tinha gente ao redor do Levi falando de política, de economia, dos segredos da cidade. A hora do almoço era o momento de fazer a digestão e de socializar. Menino, eu ficava encantado com a destreza da lâmina que tirava linhas finas das laranjas. Depois disso, curioso, também fui pesquisar a origem da redondinha mais amada por nosso paladar.
Famosa por aqui e em qualquer buraco da Terra, temos de nos orgulhar, como brasileiros, do sucesso da laranja nacional. O Brasil é o maior exportador de suco concentrado congelado do mundo, sendo assim, também, o maior produtor do planeta. Em função do clima, das condições hidrográficas e de solos privilegiados, a laranja se adaptou bem e nos tornou destaque internacional. Nativa da Ásia, provavelmente do arquipélago malaio – que atualmente abrange países como Indonésia, Filipinas e Malásia -, ou da Índia, ou do sul da China, a fruta é conhecida há quatro mil anos. Porém, é do nosso solo de que ela gostou mais, desde quando chegou nas instâncias tupiniquins com a colonização portuguesa no século 16. E fez a história da vida do Levi, que sabia, certamente, dos podres, dos bagaços e, sobretudo, dos sabores de se morar em Bom Despacho. E não duvide de que ele também falava laranjada, como bom cidadão e vendedor de vitamina C direto da fonte.
Uma confusão se dá quando pedimos suco de laranja ou laranjada nas lanchonetes. Comumente, na Cidade Sorriso, sempre ouvi e repeti que a bebida é laranjada – só a fruta espremida. Porém, em outros lugares do Brasil, os garçons me olham assustados, respondendo: você quer que coloque água? Eu sei a diferença, só que ainda não me acostumei a aceitar que laranjada tem água e açúcar e suco de laranja só tem a polpa. Gosto de falar laranjada, mesmo sendo alvo de risos irônicos. Azar! E dou de ombros para essa chatice boba. Afinal, em minhas raízes, o dicionário contém muita expressão “cenosa”.
Fiquei pensando em outras palavras relacionadas ao mundo dos líquidos bons para a saúde. Por isso, pergunto: por que não dizemos melanciada, maracujada, goiabada? A essas frutas devemos adicionar água para que se transformem em suco, não é mesmo? Então pergunto: por que nos cardápios são vendidos sucos de melancia, de maracujá e de goiaba? Ou seja, frutas misturadas com H2O. Se tem água, a denominação deveria ser diferente. Tem algo estranho nisso...Com o limão, podemos até fazer piada, pois o azedinho sem água é suco de limão – que dificilmente ingerimos puro. Na gramática, limonada é a composição por aglutinação, ou seja, acontece quando em uma palavra formada pela união de termos, um deles perde um ou mais fonemas, sofrendo, assim, uma mudança em sua pronúncia. Dividindo o vocábulo temos limão + nada, o que quer dizer: muita água e limão, nada.
Falar dessas loucuras da Língua Portuguesa deu sede e trouxe lembranças. Pelejei para recordar o nome do Levi das Laranjas, que deixava a Praça da Matriz perfumada com sua máquina de descascar. Cheiro bom, cheiro da minha infância. Ele trabalhava em frente ao Banco do Brasil, de sol a sol, provocando nossas papilas gustativas. Tinha laranja pêra, bahia, serra d’água. Tinha gente ao redor do Levi falando de política, de economia, dos segredos da cidade. A hora do almoço era o momento de fazer a digestão e de socializar. Menino, eu ficava encantado com a destreza da lâmina que tirava linhas finas das laranjas. Depois disso, curioso, também fui pesquisar a origem da redondinha mais amada por nosso paladar.
Famosa por aqui e em qualquer buraco da Terra, temos de nos orgulhar, como brasileiros, do sucesso da laranja nacional. O Brasil é o maior exportador de suco concentrado congelado do mundo, sendo assim, também, o maior produtor do planeta. Em função do clima, das condições hidrográficas e de solos privilegiados, a laranja se adaptou bem e nos tornou destaque internacional. Nativa da Ásia, provavelmente do arquipélago malaio – que atualmente abrange países como Indonésia, Filipinas e Malásia -, ou da Índia, ou do sul da China, a fruta é conhecida há quatro mil anos. Porém, é do nosso solo de que ela gostou mais, desde quando chegou nas instâncias tupiniquins com a colonização portuguesa no século 16. E fez a história da vida do Levi, que sabia, certamente, dos podres, dos bagaços e, sobretudo, dos sabores de se morar em Bom Despacho. E não duvide de que ele também falava laranjada, como bom cidadão e vendedor de vitamina C direto da fonte.
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