domingo, 3 de agosto de 2014

ESCREVER DÓI


Tive um branco. Fiquei horas olhando para a tela do computador para escrever a crônica da semana. Normalmente, dedico-me a este texto às terças-feiras. Escrevo, escrevo, leio, releio, acrescento informações, mudo o título, reviso e encaminho ao jornal na sexta-feira, para que ele possa ser diagramado. E, ansiosamente, espero a edição impressa para saber se deu tudo certo. Porém, confesso que faltou inspiração. Mas acredito que foi o estresse do dia a dia que me bloqueou. Pensei em pessoas, histórias, fatos da cidade, casos de viagens, piadas, fofocas, momentos diversos. Não saía nenhuma linha que prestasse. Por isso, resolvi relatar essa angústia.   
Às vezes, o dedilhar nas letras do teclado flui naturalmente, transformando os pensamentos em palavras. Converso mentalmente comigo mesmo e as frases aparecem. Afinal, tento ser um contador de histórias. E isso facilita o ofício da escrita. Em outras situações, dá suor, cansa, dá uma peleja sair do primeiro parágrafo. Sofro, porque escrever é um parto. E dói. Acho que o inverno me provoca reações adversas. Particularmente, não me sinto bem nesta estação, que traz o frio, e numa loucura do clima, ainda trouxe chuva. Que loucura do mundo! Fico melancólico, triste, nostálgico. 
Coincidentemente, a semana que passou tinha uma data marcante - o Dia do Escritor -, comemorado em 25 de julho que, neste ano, infelizmente, não teve muito confete, pois perdemos quatro autores fantásticos: o colombiano Gabriel García Márquez, o baiano João Ubaldo Ribeiro, o paraibano/pernambucano Ariano Suassuna e o mineiro Rubem Alves. Talvez, eles levaram a musa da inspiração para o além, e impediram que eu, o aspirante às letras, ficasse sem ideias. Mais triste ainda foi perder os três brasileiros num curto espaço de tempo. Todos morreram em julho de 2014.
Tenho admiração e me inspiro nos quatro escritores. De Gabo – apelido de García Márquez dado pelos amigos -, sou fã número zero. Ele é o meu predileto, estando sempre no topo de qualquer lista que existir sobre as minhas preferências pessoais. Sou tão apaixonado por seus livros que me espelho no seu método de trabalho. De João Ubaldo, guardo lembranças da infância, quando a TV exibiu uma minissérie baseada no livro de sua autoria - O Sorriso do Lagarto. Estava num momento de descobertas, de leituras mais densas, quando entendi como se transformava um livro em imagens. Logo depois, vi a obra A Casa dos Budas Ditosos virar peça de teatro. E esta relação de narrativas me estimulou a gostar de literatura, de cinema, de televisão, de teatro, cujas inspirações criativas bebem na fonte do maior defensor da cultura regional brasileira, fato constante no legado de Suassuna. De Rubem Alves, tenho frases guardadas e copiadas num caderno vermelho, que se tornou meu companheiro e ajudante nas horas de desespero, quando faltam vocábulos para minhas crônicas. Seus textos com temáticas espirituais ajudam a aliviar a angústia da escrita.

A literatura perdeu mestres das palavras. Entretanto, nas estantes da vida, suas heranças textuais serão eternizadas, para aqueles que os amam e também para aqueles que ainda irão conhecê-los. Peço desculpas por este texto triste, mas foi angustiante traçar esta conversa por causa do obituário apresentado. Não tive ideia melhor. Contudo, fico feliz por chegar ao final desta prosa, revelando alguns dos autores que fazem parte da minha formação cultural. A eles, eu devo um muito obrigado. E que eles nos inspirem sempre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LinkWithin