Tive um
branco. Fiquei horas olhando para a tela do computador para escrever a crônica
da semana. Normalmente, dedico-me a este texto às terças-feiras. Escrevo,
escrevo, leio, releio, acrescento informações, mudo o título, reviso e
encaminho ao jornal na sexta-feira, para que ele possa ser diagramado. E,
ansiosamente, espero a edição impressa para saber se deu tudo certo. Porém,
confesso que faltou inspiração. Mas acredito que foi o estresse do dia a dia
que me bloqueou. Pensei em pessoas, histórias, fatos da cidade, casos de
viagens, piadas, fofocas, momentos diversos. Não saía nenhuma linha que
prestasse. Por isso, resolvi relatar essa angústia.
Às vezes, o
dedilhar nas letras do teclado flui naturalmente, transformando os pensamentos
em palavras. Converso mentalmente comigo mesmo e as frases aparecem. Afinal,
tento ser um contador de histórias. E isso facilita o ofício da escrita. Em
outras situações, dá suor, cansa, dá uma peleja sair do primeiro parágrafo.
Sofro, porque escrever é um parto. E dói. Acho que o inverno me provoca reações
adversas. Particularmente, não me sinto bem nesta estação, que traz o frio, e
numa loucura do clima, ainda trouxe chuva. Que loucura do mundo! Fico
melancólico, triste, nostálgico.
Coincidentemente,
a semana que passou tinha uma data marcante - o Dia do Escritor -, comemorado
em 25 de julho que, neste ano, infelizmente, não teve muito confete, pois
perdemos quatro autores fantásticos: o colombiano Gabriel García Márquez, o
baiano João Ubaldo Ribeiro, o paraibano/pernambucano Ariano Suassuna e o
mineiro Rubem Alves. Talvez, eles levaram a musa da inspiração para o além, e
impediram que eu, o aspirante às letras, ficasse sem ideias. Mais triste ainda
foi perder os três brasileiros num curto espaço de tempo. Todos morreram em
julho de 2014.
Tenho
admiração e me inspiro nos quatro escritores. De Gabo – apelido de García
Márquez dado pelos amigos -, sou fã número zero. Ele é o meu predileto, estando
sempre no topo de qualquer lista que existir sobre as minhas preferências
pessoais. Sou tão apaixonado por seus livros que me espelho no seu método de
trabalho. De João Ubaldo, guardo lembranças da infância, quando a TV exibiu uma
minissérie baseada no livro de sua autoria - O Sorriso do Lagarto. Estava num
momento de descobertas, de leituras mais densas, quando entendi como se
transformava um livro em imagens. Logo depois, vi a obra A Casa dos Budas
Ditosos virar peça de teatro. E esta relação de narrativas me estimulou a
gostar de literatura, de cinema, de televisão, de teatro, cujas inspirações
criativas bebem na fonte do maior defensor da cultura regional brasileira, fato
constante no legado de Suassuna. De Rubem Alves, tenho frases guardadas e
copiadas num caderno vermelho, que se tornou meu companheiro e ajudante nas
horas de desespero, quando faltam vocábulos para minhas crônicas. Seus textos
com temáticas espirituais ajudam a aliviar a angústia da escrita.
A literatura
perdeu mestres das palavras. Entretanto, nas estantes da vida, suas heranças
textuais serão eternizadas, para aqueles que os amam e também para aqueles que
ainda irão conhecê-los. Peço desculpas por este texto triste, mas foi
angustiante traçar esta conversa por causa do obituário apresentado. Não tive
ideia melhor. Contudo, fico feliz por chegar ao final desta prosa, revelando
alguns dos autores que fazem parte da minha formação cultural. A eles, eu devo
um muito obrigado. E que eles nos inspirem sempre.
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