Fiquei triste ao saber,
recentemente, que a história da Livraria Roda Viva está chegando a seu capítulo
final. A notícia mexeu com os sentimentos da minha infância. Rememorei bons
momentos que passei na loja dirigida pelo meu mestre e amigo Padre Jaime. Um
dos centros de conhecimento da cidade vai deixar saudade e vai fazer falta para
a formação cristã e cultural da nossa gente. Ali aprendi muito sobre a Igreja
Católica, tive acesso a livros incríveis e vivi algumas aventuras. Recordo
muito das boas prosas atrás dos balcões que, pouco a pouco, vão ficando vazios,
sem imagens, sem terços, sem livros...
Vibrei ao comprar, pela primeira
vez com o próprio dinheiro, um livro indicado pelos conselhos do Padre Jaime.
Sou viciado em leitura desde a época em que tinha acesso às bibliotecas e,
sobretudo, ao acervo quase exclusivo da única livraria da cidade (ainda não
existia a já findada Mr. Book). E eu podia mexer até naqueles empoeirados que
ninguém queria, motivado por conversas sobre comunicação, orações, igreja,
folclore e casos da cidade sorriso.
Desde os 12 anos de idade, investi
muita mesada na aquisição de obras dos escritores de Bom Despacho: Jacinto
Guerra, Lydia Alves de Moura, Sylvia Maria Ferreira Xavier, Zeni Ribeiro
Hamdam, Geraldo Majela Couto Cançado, Geraldo Rodrigues da Costa, Mário Marcos
de Morais, Sebastião Fernando de Paula Etelvino, Jaime Lopes Cançado. Conheci
histórias apaixonantes apresentadas por estas mãos e, claro, tive minha
primeira bíblia.
Lembro-me também de quando saí da
livraria abraçado à imagem do meu santo de devoção. Fomos apresentados por
acaso, quando peguei um folheto na Igreja da Matriz que trazia mensagens em
homenagem ao servo de Jesus, especialista em causas impossíveis.. Nascia ali
uma cumplicidade de fé e, logo, São Judas Tadeu passou a decorar meu lar, há mais
de 20 anos, entre tantas mudanças de cidade, de casas, esperando meus pedidos e
agradecimentos.
Certa vez, eu estava ajudando na
Jornada Cristã de Adolescentes, no Salão São Vicente, quando apareceu o dono de
um circo que estava montado na Praça da Estação, à procura do Padre Jaime. Ele
queria comprar, insistentemente, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, para
abençoar o picadeiro. Mas o padre estava numa palestra e recomendou: - Juliano
tome a chave da livraria e faça a venda pra mim. Foi uma experiência incrível e
tensa, devido à responsabilidade. Imagine errar o valor da padroeira do Brasil
e ainda tomar um golpe financeiro? Chutei um valor (que foi quase correto, por
uma falha de R$ 2 pra cima), fiz cara de
vendedor e, ao lado do tranquilo Padre Robson dirigindo o fusca cinza da
paróquia, fui ao circo entregar a encomenda. Ali, exerci também a habilidade de
vendedor de imagens sacras.
Dói pensar nesta perda, para mim
e para a cidade. Preocupa-me saber que a maioria dos moradores não terá a
oportunidade de viver o que eu experimentei na Livraria Roda Viva. São os
tempos modernos, enfim, que devemos aceitar. Mas para encerrar esta conversa,
só paira uma pergunta: onde poderemos comprar a imagem da santa que nos
identifica e nos dá parte do nosso DNA? Não mais teremos a produção de Nossa
Senhora do Bom Despacho, só ali encontrada. Desejo que ela abençoe os nossos
outros momentos e caminhos que virão, após este doloroso final de livro.
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