Bom Despacho é cercada de histórias,
de pessoas encantadoras, de palavras desconhecidas ao dicionário, de fatos e
imagens que só existem neste canto de Minas. A passagem da garapa fez com que
eu voltasse à infância e lembrasse de um amigo que vendia um bom caldo de cana
na Av. Dr. Miguel Gontijo. Foi ali nas beiradas do antigo Gariffe que aprendi a
gostar de garapa e depois beber o suco acompanhado de pastéis, de carne
preferencialmente. E o vendedor, que antes era o Zé, pai dos meus amigos,
marido da Maria, amiga da minha mãe, bibliotecária da Escola Chiquinha Soares,
virou um mito. Foi apelidado pelo povo: - vou lá no Zé da garapa. E a cidade
sorriso ganhou um Zé Garapa especialista em pizza. Só Bondês tem.
E há sabores que só esta terra
possui. Temos uma doceira que faz uma das minhas sobremesas prediletas e,
talvez, há muitos outonos, que só encontro doce de raiz de mamão na casa da
Valmira, uma mulher de mãos abençoadas para a culinária. O cheiro que sai pelo
portão é a melhor propaganda do doce caseiro que ela faz: goiabada, leite,
cocada...Chego a ficar com água na boca apenas lembrando das colheradas destas
iguarias tão especiais, que ela deixa degustar, antes de você querer comprar
tudo. Todos os doces são bons, porém, já saí de Belo Horizonte feito uma
grávida com desejo para deliciar somente um pouquinho do doce de raiz de mamão,
da Valmira, que não vende em outras cercanias. Isso é da gente.
Outros gostos foram provocados
com certeza pelas águas dos rios que banham a cidade. Quando criança me lembro
bem do chup chup de amendoim da dona Duca, no bairro Jardim América. Do sorvete
de abacaxi da inexistente Bola de Neve – este é incomparável a qualquer sorvete
do mundo, nem as marcas mais famosas conseguem fazê-lo -, local onde sentávamos
após a missa das dezenove horas para narrar a vida de quem ficava dando volta
na Praça. Da geleia da dona Clarinda, na Avenida das Palmeiras. Do pastel do
Ananias, que era vendido na galeria onde já foi a prefeitura. Do sanduíche
aberto da Padaria Silva. Sabores que passaram, no entanto, ficaram marcantes na
nossa cultura gastronômica.
Gastronomia que até virou ditado
popular: quem experimenta do biscoito da Mariquinha e bebe da água da Biquinha,
certamente voltará a Bom Despacho. Ainda estou em busca da receita desta
quitanda que não conheci, mas se refrescar na bica das lavadeiras, isso é
difícil dizer quem nunca fez. Ali é palco de histórias, de mentiras, de
esconderijos amorosos, de brincadeiras infantis, de passagem para os
preguiçosos desanimados a subir a Rua dos Expedicionários. Realmente, não dá
para esquecer das escadarias deste nosso charmoso ponto turístico.
Fiquei em algumas lembranças e
ainda vou escrever sobre várias delas nesta coluna. Para encerrar esta prosa,
lembro de uma palavra tão mineira, mas que apenas em nossa região ela possui a
forma feminina, e que encerra algumas conversas. Para tudo temos o Sá, que é o
contrário de Sô. Coisas de gente cenosa (explico que é aquela pessoa que faz
graça, que é engraçada, divertida, palhaça, para o caso de você não ser de Bom
Despacho e não entender). Gente que só esta cidade tem. Adjetivo de quem sabe o
que é garapa, que já comeu as quitandas da Mariquinha, matou a sede na
Biquinha, experimentou o doce da Valmira, o pastel do Ananias e tem saudade da
Bola de Neve e da dona Clarinda, que não deixou a receita da geleia, mas ficou
marcada na memória de nossa história. Momentos que só existem aqui.
Compartilhe sua lembrança comigo
no email julianoazevedo@gmail.com.
Perfeito Jú!!! Boas lembranças...
ResponderExcluirQuem és tu? rsrsrsrs Abraços
ExcluirUma deliciosa, literalmente, viagem no tempo. Parabéns Jú!
ResponderExcluirE nesta viagem nós temos tantas histórias juntos não é mesmo, Josi!? rsrsrssr
ExcluirQue delícia de leitura, Juliano!
ResponderExcluirCoisas de Bom Despacho!...
Fez-me lembrar de uma aluna que veio de São Paulo e ficava intrigada com nossa expressão "Não é mesmo?".
Falamos e nem sentimos, mas é visível o "choque" entre as culturas.
Parabéns!
Abraço.
E tantas expressões particulares...tantos jeitos de dizer. Ser de Bom Despacho é ser único. Somos assim, não é mesmo!?
ExcluirFantástico.
ResponderExcluirIsso mesmo Mister W...rsrsrss obrigado pelo carinho
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