segunda-feira, 22 de abril de 2013

QUEM CONHECE, NÃO ESQUECE. JAMAIS!

Charge do Clayton - Blog do Eliomar

Todo mundo se conhece na Cidade Sorriso ou sabe de algo que aconteceu com alguém destas bandas do centro-oeste mineiro. O João é da Maria. O Joaquim é da Tereza. A Marta é filha da Antônia, que já foi do Calabouço e que agora é do Arraial. Nossas denominações tão aconchegantes permitem que os quase 46 mil habitantes sejam lembrados por apelidos, pelas famílias tradicionais, pelas escolhas profissionais, pelos bairros, pelas turmas de carnaval. Amigos tão saudosos e animados que se reúnem também fora de época, deixando as histórias das famosas sedes da folia bom-despachense ficarem na memória.

Este pequeno pedaço de terra cercado pelos rios Picão, Lambari e São Francisco deixa saudade naqueles que tomam do nosso marcante cafezinho. Não existe sabor em outras cercanias. Talvez seja por causa do café, ou do carnaval, quem sabe do leite, que sempre há alguém que conhece gente de Bom Despacho. E é impressionante viajar pelo mundo e ouvir estas lembranças que nós deixamos no coração de quem nos visita. Nas redes sociais da Internet até existe uma comunidade que se chama “Bom Despacho vai dominar o planeta”. Fico pensando: de onde saiu tanto conterrâneo? Minha avó tem uma expressão que pode explicar este dilema: “se você vai a algum lugar e não tem ninguém de Bom Despacho, tenha certeza, que ali tem pelo menos você, que representa nossa cultura e nosso povo”. E nesta reunião de desconhecidos, certamente, alguém terá amizade com algum morador do ex-distrito de Pitangui.

Já ouvi um causo que parece conversa de pescador. Se é verdade, só outro causo pode solucionar o mistério. Mas vou registrar. Vamos lá? Era uma vez...Um amigo de um amigo que estava de férias em Londres, lá nos domínios da Rainha Elizabeth. O rapaz passeava pela capital inglesa de metrô, tirando fotos turísticas e soltando piadas em português. Ou seria na língua da Tabatinga? Era um tal de “uai, sá. Uai, sô!” Frase emendada com um “ela é cenosa demais”. E a dupla ainda tirava sarro dos nativos: “tipura o tiploque da ocaia e depois dá uma tipurada nos maveros da loirinha, disse com jeitinho sacana. E os amigos ficaram rachando os bicos de quem ficava panguando dentro do trem. Quando de repente escutaram um som familiar. Lá na frente, gritaram: Ôôôôôôô Bom Despacho!!! Te conheço lá do Bairro de Fátima. A família real da Grã-Bretanha não se manifestou sobre o domínio do nosso dialeto que já invadiu uma das grandes potências mundiais. O certo é que chegamos lá.

Dizem que até o Papa Francisco se manifestou durante uma missa na Praça de São Pedro, quando um fiel no meio da multidão chamava a atenção da Vossa Santidade. Durante a cerimônia, o papa espichava o pescoço, ajeitava os óculos para melhorar a visão, cochichava aos coroinhas querendo saber quem era aquele sujeito alto, com uma miscigenação alemã, africana e portuguesa. Ele sabia que conhecia aquele destacado católico de algum lugar. Após a benção, o argentino foi abrindo caminho entre o povo até encontrar o homem que o intrigava e perguntou: - O senhor é de Bom Despacho? O fulano ficou assustado com tanta assertividade e gritou: - Milagre! Nosso papa é vidente! Humildemente, o discípulo de Cristo explicou: - Milagre é o senhor que vai precisar para consertar este corte de cabelo, porque está ruim demais. Conheço o barbeiro que tem este estilo. E ele é lá de Bom Despacho.

Parece piada, só que não é, apesar de ser engraçado o caso verídico em que a Cidade da Senhora do Sol foi citada nas manchetes nacionais. Desde então ficamos mais famosos, afinal tudo que é bom tem uma pitada de algo salgado para equilibrar o gosto. Este episódio queimou o filme de Bondês no Programa do Ratinho, outros dizem que foi no sofá da Hebe. O fato é triste, mas não estraga a nossa auto-estima, pois o importante é que até a dama da televisão brasileira também mencionou de onde somos para o Brasil. Contam que ela, ou o apresentador mais polêmico da TV, recebeu o cantor Leonardo nos estúdios do SBT. Entre as conversas fiadas, o goiano é questionado se algum dia tomou um calote. Sertanejo e de palavras rasgadas mandou na bucha: - tomei, e foi lá em Bom Despacho. Eu não acredito muito, porque por aqui a gente não toma calote. A gente é catiolado. Assim a grande audiência dos programas repercutiu do Oiapoque ao Chuí, colocando estas estâncias no anedotário brasileiro. Depois disso não podem dizer que nunca ouviram falar daqui.

Esta prosa pode se estender por páginas e páginas, porque bom-despachenses, todos são ilustres, sendo reconhecidos pela hospitalidade, tranquilidade e pelo jeito festeiro. Somos citados nas rodas de macumba para que os feitiços funcionem. Lembrados quando mandamos recados pelo correio, real e virtual. E nos livros de história que contam a vida de um ilustre governador de Minas, o Olegário Maciel, que nasceu e foi batizado na paróquia da Matriz. Talvez não haja município das gerais que não faça uma homenagem pra gente, e para o político, dando seus nomes para ruas e avenidas. Esta jovem centenária é histórica, tem história, tem memória. Tem gente. Conhece-se Bom Despacho quando se fala de seu maior patrimônio, o povo, nós. Os outros que nos conhecem e relatam nossos contos. Temos nome e sobrenome, somos e pertencemos aos antepassados, aos que nos cercam, ao que fazemos, principalmente, nossos valores e amores. Isso que nos faz sermos diferentes ao mundo, que sabiamente nos reconhece.

P.S.: para você que não domina o linguajar de Bom Despacho, explico:
Tipura: observe
Ocaia: mulher
Tiploque: calçado
Cenosa: engraçada
Mavero: seios
Panguando: vacilando
Catiolá: roubar
Rachando os bicos: rir alto

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