segunda-feira, 28 de novembro de 2011

PENSO, LOGO PRECISO LIMPAR AS GAVETAS



De.le.tar – (informática): eliminar, apagar, suprimir, remover, excluir.

O verbo deletar entrou na língua portuguesa de atrevido que é. Apareceu ali no cantinho do teclado, humilde, porém, às vezes, mais crescidinho...coisas de design. Mas entrou para nunca mais sair do vocabulário do brasileiro.

Sinônimo fácil para o que ele se propõe, virou uma palavra traiçoeira. A moda agora é deletar. Apagar as pessoas do Facebook, do MSN, do Twitter. Do coração, da mente, da vida. Até música ele já ganhou: "eu vou te deletar, te excluir do meu orkut.."

Deletar algumas coisas seria muito tranquilo se para tudo existisse esta tecla. Não gostou do pão, deleta. Odiou a balada, deleta. Detestou ficar com esta pessoa, deleta. Apaixonou, deu errado, deleta. Difícil seria tanta lixeira, para tanto desgosto. Nem a coleta seletiva iria dar conta de tanto trabalho perdido.

A dúvida é: para onde vão tanta informação, tanto desejo, tantos encontros e desencontros? Deletar, mole. No entanto, tudo tem consequência.

Seria possível deletar aqueles momentos fotográficos que ficam arquivados no cérebro? Aqueles instantes que temos na intimidade, desejos secretos? E fazer desaparecer o cheiro do perfume marcante? Os momentos de carinho? As conversas da madrugada? Aquilo que marcou, mas que se foi.

Quando se aperta a tecla DEL nas redes sociais, tudo isso vai embora junto? Infelizmente, não. Seria menos humano, mas seria mais útil, conforme conclusão de quem prefere limpar a caixa de entrada a deixar resquícios nos rascunhos.

Seria interessante deletar algumas pessoas. Apagar alguns sentimentos. Talvez, uns pensamentos. Aqueles que sempre retornam nas noites de insônia, quando sozinhos desejamos retomar o passado. Ou fantasiar histórias criadas pela imaginação como se fosse uma novela real. E acreditar que no futuro elas possam ser materializadas em corpo, em alma.

Ah, vida! A melancolia faz parte do cotidiano de quem pensa. Já dizia Descartes, o filósofo francês de nome René: Penso, logo existo. E estar é ter estes momentos de reflexão, de melancolia, que é muito diferente da tristeza. Mas, muitas vezes, pensar demais leva ao fundo do poço. Mais tranquilo então, usar a tecla delete.

Em alguns casos mais graves, o correto para o homem quase máquina, deveria ser a tecla formatar. Limpar para encher novamente. De esperança, de felicidade, de amor. De paz.

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