sábado, 9 de abril de 2011

ODEIE O CRIME, NÃO O CRIMINOSO

Todo o inferno está contido nesta única palavra: solidão. Victor Hugo

Difícil não viver este sentimento. O verbo de atitude condenável, o odiar, provoca doença na alma. Complicado não sentir ódio quando um maluco mata 12 crianças inocentes. Anjos puros, brasileirinhos que deixaram este mundo. Crime que ficará impune. Difícil não odiar o criminoso morto.


Pensamentos soltos, mais frios, frutos de uma conversa amiga, com quem analisa de outra maneira a tragédia, provocou uma reação diferente no que sinto. Wellington matou para ser notado. Reconhecido. Cortejado. Ele queria atenção e colo. Um sujeito sozinho, fruto da rejeição social. Feio. Tomado por desejos insanos de morte. Negava o belo, por isso tirou a juventude das meninas que poderiam ser as mais pecadoras no futuro. Elas escolheriam perfis em que ele não se enquadraria.

Solitário em seus desejos secretos, vivia conectado na internet. Tão tímido e incapaz de estreitar relações, não tinha nem amigos virtuais, numa era em que predomina a troca de afetos nas redes sociais. Na WWW, é possível ler de tudo, aprofundar a enciclopédia de A a Z, aprender a dar tiros, recarregar armas. É uma terra sem lei, que transmite conhecimento, para bom entendedor das palavras. Ele sabia interpretar, não conseguia discernir o que é certo do inadequado.

Não adianta traçar o psicológico do sujeito. Seu corpo morto sujo de sangue já vai ser enterrado em vala comum. Já provocou uma das maiores catástrofes vistas no Brasil. Será lembrado para sempre como o primeiro “fuzileiro” de escolas. Analisar o quê, ilustres colegas jornalistas, psicólogos, pedagogos? A conversa vai terminar nos bares neste fim de semana. E só. Segunda-feira outra notícia para comentarmos. De que adianta gastar saliva para explicar o inaceitável? Estes estudos vão prevenir outras chacinas?

Alguém comenta a morte do índio de Brasília? Lembra-se da impunidade da Chacina da Candelária? Do massacre do Eldorado dos Carajás? Da carnificina do Carandiru? Como sempre, terminou com pizza recheada de catchup. Debater é fácil. Onde está a cobrança? A punição? O cumprimento de uma lei desleal, que só coloca pobre atrás das misérias do sistema penitenciário?

Wellington é fruto de uma sociedade machista, hipócrita, imoral, homofóbica, manipulada, baseada em modismos estéticos, onde o que é feio, belo nunca será, nem no interior da alma. Não fico penalizado com a morte dele. Ficar vivo e preso, não seria sofrimento para quem foi rejeitado durante 23 anos. Maluco, louco, doente mental, psicopata, perverso? Elogios teremos aos quilos no dicionário para classificá-lo. Porém, lembremo-nos de que este só foi o primeiro dos muitos surtos que teremos nos próximos tempos.

A solidão é o mal deste século. O vazio de valores, de educação, de família. Crianças criadas por babás eletrônicas, com cérebros capazes de inventar aquilo que uma sociedade imatura entende como normal. Estou indignado, amargurado, chorando pela perda de seres com tenra idade. Puros. No entanto, estou preocupado com o que este exemplo pode gerar no futuro. Oremos por todas as almas.

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