Artistas buscam inspirações na
natureza, nas musas, na contemplação do cotidiano. Sentimentos como ódio, amor,
saudade, alegria, perdas e vitórias também são temas recorrentes em músicas, em
pinturas, em filmes. Indiferentemente da época, tudo se mistura para formar a
essência de cada uma das sete artes. Acredito que ninguém que precise se
inspirar aja diferente. O que me questiono, e o que me deixa curioso, é saber
qual é o local onde essas ideias surgem para depois se transformarem em algo
concreto.
Quantas maçãs caíram na cabeça de Isaac Newton para
que ele descobrisse a gravidade e postulasse a lei? Certamente, o cientista
buscava o refúgio da sombra da árvore para refletir suas inquietações e, assim,
na mistura de conexões neurais, ele encontrava respostas às suas pesquisas. Na
observação do banal, tornou-se uma das grandes mentes já conhecidas. Porém, não
havia banalidade em seus questionamentos, pois ele mesmo afirmou que “nenhuma
grande descoberta foi feita jamais sem um palpite ousado". Ou seja, ao pé
da macieira havia ócio, mas não faltava criatividade.
Os escritores Moacyr Scliar e Gabriel Garcia Marquez
nasceram separados pela distância de suas nações e, obviamente, tiveram
formações diferentes. Um era médico. O outro, jornalista. Valores familiares
distintos, experiências únicas, leituras que desconhecemos. O primeiro,
brasileiro, gaúcho, de Porto Alegre. Já o autor Nobel de Literatura, nasceu
colombiano e foi morar no México para ter sossego. Nada parecido entre eles
nessa superficial biografia que fiz, contudo, os dois escreveram textos sobre o
cotidiano, cronistas de suas cidades, de suas caminhadas por aí, de personagens
inacreditáveis. Tenho certeza de uma semelhança: a inspiração nascia do ser
humano. Daqueles homens e mulheres que realmente existem para serem
protagonistas de livros, de colunas de jornais.
Fico
pensando que Leonardo da Vinci, Santos Dumont e os irmãos Wright brincavam de
observar as nuvens e os desenhos imaginários que elas formavam. Faziam apostas
com os amigos para quem adivinhasse o animal que surgia na imensidão branca que
passeava pelos céus. Durante a diversão, pássaros voavam rasantes acima da
molecada e sumiam buscando seus ninhos ou entravam na fila da migração rumo a
poleiros distantes onde a comida era mais farta. A indagação dos meninos era a
mesma: como voar? Cada um a seu tempo fez algo para que o homem ganhasse asas.
Minha inspiração, para aulas, textos, viagens,
comidas, nasce num lugar inusitado. Debaixo do chuveiro, durante o banho, fico
refletindo enquanto a água quente acalma a nuca. Noto que ali tem um ponto que
agita o cérebro, ligando os neurônios para o pensamento. Dentro do box, escrevo
linhas que ainda não ganharam caligrafia, invento o que vou cozinhar no
domingo, faço percursos nos lugares que desejo conhecer andando pelo planeta.
Lamento que ainda não exista um computador à prova d’água, para que eu possa já
dedilhar as fantasias ao som dos pingos caindo no meu corpo.
Assim dedico esta crônica ao chuveiro, fiel
companheiro, instrumento que me ajuda nos momentos de criação. Se tenho
ferramentas como caneta, papel, teclado, não há dúvidas que o eletrodoméstico
do banheiro também é fundamental para as aventuras que sonho em realizar, e que
concretizo. Afinal, um bom banho resolve grande parte de muita coisa.
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