Há um ano, passei por uma das
experiências mais incríveis das minhas três décadas de existência. Assisti o
nascimento de Lorena (no sentido de auxiliar mesmo), a caçula da minha irmã,
que veio ao mundo de repente, quando não havia ninguém da equipe médica no
quarto do hospital. Foi um susto, um desespero, uma gritaria, mas foi, também,
emocionante presenciar o parto da minha sobrinha, que se tornou minha afilhada
de batismo. Desde aquele intenso momento, de ouvir o choro da pequena criança
no colo da mãe, caiu sobre mim outra responsabilidade paternal, pois era mais
um compromisso que eu viria a assumir no “cargo” de padrinho, papel que
valorizo e acredito que deva ser exercido com empenho e com presença. Ser
padrinho ou ser madrinha não é questão de status
ou apenas um título honorário. É atitude!
Sou batizado, crismado e
consagrado a Nossa Senhora. Por isso, tenho quatro padrinhos e uma madrinha,
pessoas admiráveis e que me acompanham na estrada pela vida. No primeiro
sacramento recebido pelos cristãos católicos, fui acolhido pela Marli, pelo
Ildeu e pelo Marcinho, que foram escolhas certas dos meus pais e pelos quais eu
tenho um apreço e um carinho que, infelizmente, demoro a demonstrar por causa
das barreiras causadas pela distância e pelos desvios do destino. Ainda bem que
eles são presentes no pensamento, no coração, nos encontros casuais.
Tenho um privilégio também porque
pude escolher quem me consagraria perante a Mãe da Igreja, o que para mim foi
uma vantagem. Quando tinha quatro anos de idade, fiz o convite ao Antenor,
marido da tia Lúcia, irmã da minha mãe. Carinhosamente chamado de Tête, aceitou
a missão prontamente, sorrindo debaixo de seu bigode anos 1980. Sou grato a
ele, e o admiro muito, principalmente, pelas palavras de ensinamento que sempre
tem quando estamos juntos nos almoços e nas festas familiares. Padrinho Tête é
incrível em tudo o que faz. Por ele, valorizo até as viagens furadas que
fazíamos para Itaoca, no interior do Espírito Santo, onde aprendi valores como
paciência, tolerância e alegria.
Na Crisma, queria outro padrinho.
De acordo com a catequista, na época, a professora Conceição Guimarães, teria
de ser alguém que pudesse passar valores morais e religiosos. Pela proximidade,
pelo carinho paterno, por sua postura diante da igreja e, sobretudo, por ser um
trabalhador exemplar, o eleito foi o Teodoro Antônio, marido da tia Guida –
irmã da minha mãe - e também primo de primeiro grau do meu pai. Parente por
dois lados, ele merecia o título, mas quem ganhou o presente fui eu. Padrinho
Tõe é exemplar.
Esses são modelos que me conduzem
quando me relaciono com os meus quatro afilhados. O primeiro foi o Rafael,
filho da tia Lúcia e do padrinho Tête, que me fizeram o convite quando ele era
um bebê de poucos meses. Eu ainda era um adolescente e fiquei extasiado com
aquela oportunidade, que seria dupla, pois sou padrinho dele de representação e
de consagração. Desde pequeno, o atleticano roxo e doente pelo time, pede-me a
bênção e me chama de senhor, mostrando respeito pelo que sou para ele, mesmo
nós sendo primos e tendo idades tão “próximas”- só que nem tanto assim.
Mateus é o apadrinhado da Crisma.
Um amigo para todas as horas e um adulto quase do meu tamanho. Somos, mais do
que primos, cúmplices do tempo em que morávamos juntos numa república em Belo
Horizonte e dividíamos o mesmo quarto. Também compartilhávamos histórias,
sonhos, desilusões, decisões para o futuro. E me escolheu para servir de
exemplo de cristão, o que me deixa lisonjeado e me encoraja a continuar sendo
fiel aos ensinamentos de Jesus.
Com esta fé, desejo que eu possa
ser também um padrinho parceiro, companheiro, amigo, principalmente, do pequeno
Felipe, meu afilhado de batismo. Menino inteligente, silencioso, esperto e
atento a tudo que acontece ao seu redor. Sua carinha de anjo é um afago como
seu abraço sincero. Como é bom ter a graça divina de ser escolhido para estas
missões. Lorena é quem vai passar um perrengue comigo a vida toda, ao me ouvir
contar o caso de sua vinda à Terra, pois eu a vi nascer, literalmente. Um fato
inesquecível.
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