Maria do Carmo, Maria José, Celina Maria, Margarete, Lourdinha, Helena
Margarete é uma artista. Decora
caixas e faz trabalhos manuais incríveis. Dedica-se ao ofício para presentear e
emocionar quem recebe seu carinho. Quando chega uma data especial, aquele
momento se torna mais marcante para aqueles que são agraciados com tamanha
singeleza. A madeira é a mesma, mas cada caixa é única, feita com esmero e
dedicação, com suas figuras, formas, texturas e cores.
Ela decidiu ensinar e dividir
suas técnicas oferecendo, novamente, um outro presente: a partilha de conhecimentos
durante um encontro especial. A ideia é mais do que misturar tintas, fazer
desenhos, descobrir possibilidades artísticas. É também mostrar para quem
desconhece algumas habilidades, que basta empenho para a produção de coisas
bonitas e que, lá no fundo, existe um artista escondido. Margarete promove, por
meio da arte, um resgate de sua essência. Ela retoma suas amizades da infância.
Revive valores familiares, reencontra-se naquelas que a viram crescer.
A filha da Tia Antônia revela às
suas primas o que sabe fazer com os pincéis, com a cola, com os retalhos de
tecidos esquecidos nos baús das costureiras. E as meninas, ao mesmo tempo,
compartilham o que também aprenderam por aí. Com este prazer, reúnem-se
esporadicamente ao redor da mesa para fazer artesanato, mas, sobretudo, com o
intuito de manter firme a união da família, que já deve ter passado dos mais de
mil integrantes. Elas criaram o grupo Artesanato em Família Cardoso &
Azevedo para conversar, relembrar das brincadeiras vividas na Passagem, dos
casamentos, dos filhos, dos netos. Do tempo em que, elas crianças, costuravam
meias para produzir bolas, geravam suas bonecas com sabugos de milho, pintavam
e bordavam no quintal, em aulas de tricô e crochê, dos pontos aprendidos com as
suas avós.
Ali nas beiradas da Cruz do
Monte, num sábado à tarde, Celina Maria, a prima professora, dedicada à saúde
da mãe e dos irmãos, faz o café, forte, serve o biscoito, conta os casos
ouvidos na boleia do leiteiro que fazia a rota Bom Despacho à Passagem, onde a
família cresceu. E o hábito mineiro estimula a prosa e o nascimento dos objetos
decorativos. A tia Celina, a mãe da Celina Maria, e a matriarca mais experiente
da família, mais conhecida como TiCilima – no sotaque mineirês-, ouve tudo,
atenta, possivelmente lembrando dos acontecimentos do século em que ela vive
bravamente.
No encontro para celebrar este
momento, Lourdinha, filha da tia Didi e do tio Zé Cardoso, Maria do Carmo e
Daniela, filha e neta da tia Zulmira e do tio Zezé, Maria Amélia e Maria José,
filhas da tia Amélia e do tio Zé Purcino, Helena e Cidinha, filha e neta da Tia
Celina, Madrinha Marli, irmã da Margarete, filhas da tia Antônia e do tio Zé
Miguel, rabiscam, misturam cores, recortam, desenham, riem, tomam café,
relembram, fazem planos para o futuro. As caixas vão surgindo para guardar as
memórias, das meninas artistas e dos outros que as receberem de presente.
Elas já deixaram registrado no
avental um recado para as outras gerações: “Primas em primeiro grau, todas nós,
com os mesmos princípios, os mesmos valores, as mesmas manias. Somos iguais nas
nossas raízes! Encontrar umas as outras é um encontro com cada uma de nós! Hoje
descobrimos mais um ponto comum: a arte”. E com isso dão mais outra lição:
normalmente, caixas são feitas para ficarem fechadas, mas estas são como as
primas artesãs, que sempre agregam mais gente ao bom convívio familiar.
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