segunda-feira, 21 de abril de 2014

AS PRIMAS ARTESÃS

Maria do Carmo, Maria José, Celina Maria, Margarete, Lourdinha, Helena


Margarete é uma artista. Decora caixas e faz trabalhos manuais incríveis. Dedica-se ao ofício para presentear e emocionar quem recebe seu carinho. Quando chega uma data especial, aquele momento se torna mais marcante para aqueles que são agraciados com tamanha singeleza. A madeira é a mesma, mas cada caixa é única, feita com esmero e dedicação, com suas figuras, formas, texturas e cores.

Ela decidiu ensinar e dividir suas técnicas oferecendo, novamente, um outro presente: a partilha de conhecimentos durante um encontro especial. A ideia é mais do que misturar tintas, fazer desenhos, descobrir possibilidades artísticas. É também mostrar para quem desconhece algumas habilidades, que basta empenho para a produção de coisas bonitas e que, lá no fundo, existe um artista escondido. Margarete promove, por meio da arte, um resgate de sua essência. Ela retoma suas amizades da infância. Revive valores familiares, reencontra-se naquelas que a viram crescer.

A filha da Tia Antônia revela às suas primas o que sabe fazer com os pincéis, com a cola, com os retalhos de tecidos esquecidos nos baús das costureiras. E as meninas, ao mesmo tempo, compartilham o que também aprenderam por aí. Com este prazer, reúnem-se esporadicamente ao redor da mesa para fazer artesanato, mas, sobretudo, com o intuito de manter firme a união da família, que já deve ter passado dos mais de mil integrantes. Elas criaram o grupo Artesanato em Família Cardoso & Azevedo para conversar, relembrar das brincadeiras vividas na Passagem, dos casamentos, dos filhos, dos netos. Do tempo em que, elas crianças, costuravam meias para produzir bolas, geravam suas bonecas com sabugos de milho, pintavam e bordavam no quintal, em aulas de tricô e crochê, dos pontos aprendidos com as suas avós.  

Ali nas beiradas da Cruz do Monte, num sábado à tarde, Celina Maria, a prima professora, dedicada à saúde da mãe e dos irmãos, faz o café, forte, serve o biscoito, conta os casos ouvidos na boleia do leiteiro que fazia a rota Bom Despacho à Passagem, onde a família cresceu. E o hábito mineiro estimula a prosa e o nascimento dos objetos decorativos. A tia Celina, a mãe da Celina Maria, e a matriarca mais experiente da família, mais conhecida como TiCilima – no sotaque mineirês-, ouve tudo, atenta, possivelmente lembrando dos acontecimentos do século em que ela vive bravamente.

No encontro para celebrar este momento, Lourdinha, filha da tia Didi e do tio Zé Cardoso, Maria do Carmo e Daniela, filha e neta da tia Zulmira e do tio Zezé, Maria Amélia e Maria José, filhas da tia Amélia e do tio Zé Purcino, Helena e Cidinha, filha e neta da Tia Celina, Madrinha Marli, irmã da Margarete, filhas da tia Antônia e do tio Zé Miguel, rabiscam, misturam cores, recortam, desenham, riem, tomam café, relembram, fazem planos para o futuro. As caixas vão surgindo para guardar as memórias, das meninas artistas e dos outros que as receberem de presente.

Elas já deixaram registrado no avental um recado para as outras gerações: “Primas em primeiro grau, todas nós, com os mesmos princípios, os mesmos valores, as mesmas manias. Somos iguais nas nossas raízes! Encontrar umas as outras é um encontro com cada uma de nós! Hoje descobrimos mais um ponto comum: a arte”. E com isso dão mais outra lição: normalmente, caixas são feitas para ficarem fechadas, mas estas são como as primas artesãs, que sempre agregam mais gente ao bom convívio familiar. 

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