As primeiras braçadas foram dadas
na piscina pequena, quando uma bronquite atrapalhava a respiração e o médico
recomendou natação como uma alternativa de cura. Na Praça de Esportes, nome
popular da AAB – Associação Atlética Bondespachense, aprendi a nadar e fiz
grandes amizades, passando ali momentos inesquecíveis até a adolescência. Foram
emoções únicas.
A voz potente do meu professor
era ouvida até debaixo d’água. Com um apito, e sua gravidade vocal, Jorjão
ensinava as técnicas de mergulho e as modalidades para a competição: crawl,
peito, costas, borboleta. O mestre, famoso atleticano da cidade, desafiava-nos
com sua intensa disciplina, com o intuito de nos tornar medalhistas. Fazer 50
metros em poucos minutos já era uma vitória suficiente para nos estimular.
Nadei muito na área reservada para as crianças até conquistar o fundo da
piscina maior, onde eu e meus amigos nos exibíamos em saltos mortais. Na
beirada, fingindo melhorar o bronzeado, também comecei a admirar a beleza dos
corpos que ali desfilavam. No clube conheci as circunstâncias do amor.
Recentemente, voltei à Praça de
Esportes para uma festa e flashes remontaram uma história de personagens que
ali conheci. No bar, que já havia sido do meu pai, tive minha primeira conta como
mensalista. Pereira, o dono, vendia coxinha, picolé, refrigerante, o melhor
frango frito do mundo, e confiava em mim como cliente. Afinal, se eu não
pagasse, meu progenitor acertava as dívidas depois.
Quando o toboágua chegou ao
local, ficamos ansiosos para a inauguração do atrativo. Na época, com a
ampliação da área de lazer, com as novas piscinas, um centro de atividades
físicas, Pereira ganhou um concorrente. Quexada trouxe uma novidade no cardápio
para nossos lanches, o salgado mais caro da estufa: um espetinho de frango que
era a sensação do bar.
Passei mais tempo ali do que
brincando na casa dos “outros”, como diria minha avó. Se meus pais não
estivessem trabalhando, com certeza estavam lá jogando buraco até de madrugada.
Meus irmãos eram “piolhos”. A maioria dos meus amigos tinha cota e até quando a
gente matava aula, o refúgio era certo. No período em que moramos no bairro
Jardim América, era engraçado telefonar e pedir para chamar alguém da família.
A pouquíssimos quilômetros de distância, dava para ouvir o João Mota gritando
ao telefone: fulano, favor atender ao telefone na portaria.
Cada dia era um momento
diferente. E com tantas recordações: brincar de segurar o fôlego para passar
debaixo da perna de uma galera enfileirada, desafiar os colegas no mais
prolongado mergulho e atravessar a piscina de ponta a ponta, ser o mais veloz
na descida do toboágua, acertar várias cestas na quadra de basquete. Contudo, nada
disso substituía o objetivo maior de descer quase que diariamente a Rua Tiradentes.
Na Praça de Esportes, eu ia para me divertir, porém queria mesmo era passar em
frente da janela da minha paixão, para ver minha musa no alpendre. E
convidá-la, para viver aquele amor platônico, no parquinho, na roda gigante, no
escorregador e na gangorra. Coisas de criança, mas lembranças intensas.
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