domingo, 13 de novembro de 2011

QUAL O SEGREDO DA FELICIDADE?

Serra do Cipó - caminho para descansar e refletir

Quais são os motivos para se acordar às seis da manhã, sair de casa, enfrentar um embate diário com o trânsito movimentado e ainda depois trabalhar, normalmente, oito horas, durante uma semana, ao longo de um ano inteiro, fazer o percurso de volta e, já cansado, se a paciência não estiver esgotada, dar uma “esticada” ao cinema ou ao bar para relaxar? Sem pensar muito, a resposta mais simples seria: para sobreviver. Mas, mais do que isto, o que move o ser humano para a corrida maluca da vida é um sentimento que todos, de alguma maneira, já têm, ou tiveram. Infelizmente, não é simples vivê-lo e senti-lo. É necessário, primeiro, começar a percebê-lo nas pequenas realizações do dia-a-dia. É uma busca incessante como escreveu o filósofo Aristóteles, no século IV a.C., ao postular que a maior meta do homem é a felicidade. E ela é para o corpo o mesmo que o sol representa para as plantas. É o combustível que nutre do nascer ao findar do dia.   
Especialistas, escritores e charlatães tentam descobrir o segredo há décadas, e ainda não há um consenso sobre a definição do que seja felicidade. Prefiro dizer que ela se resume a momentos de emoção, a instantes de cada vitória, a segundos de uma luta vencida e a todos os prazeres simples, que somente Deus, em sua complexidade, pode ofertar. Tudo isso é ofertado. Estas dádivas são dadas ao homem em cada segundo do dia. Entretanto, passa despercebido. Como não ficar feliz com o bom dia cantado pelo bem-te-vi genuinamente brasileiro que, no despertar da manhã, assobia suas canções nas antenas das cidades? O pássaro incomoda muito vizinho mal-humorado, mas é bom saber que ainda são compostas músicas de qualidade, e que não foram copiadas, para embalar o ritmo do banho matinal de quem se prepara para a labuta.
Depois do café preto tomado, esfumaçante, com cheiro de fazenda e um pão francês dormido para forrar o estômago, é possível encontrar com a experiência de senhores e senhoras sorridentes no ponto de ônibus, despreocupados com o passar lento das horas e com os atrasos corriqueiros, como se o tempo fosse um aliado da vida e não o vilão da história que deverá ser narrada ao chefe.
Também encanta a variedade de cores, de combinações, de sabores e de formas que constituem os alimentos. Em sua criatividade, a artista Pandora lembrou-se de todos os pormenores e modelou cada pedaço do paraíso. É uma pena que, nos almoços-relâmpagos, a desordem do tempo não permite que a degustação entre em sintonia com os outros sentidos humanos. Mas nas noites iluminadas pela solitária e bela lua cheia, não se pode esquecer com que intensidade o cozinheiro prepara um jantar para si mesmo. Panelas e colheres sujas pela pia, o molho derramado decorando o piso branco da cozinha, o cheiro de gordura no cabelo. Tudo, para que, no fim, em um prato fundo de ferro batido, o macarrão instantâneo se espalhe suavemente sob a alquimia do tomate, do óleo e do sal. E ao enfeitar o lanche rápido com um ramo de salsa, a sensação de ter dado a última pincelada na maior obra de arte realizada na contemporaneidade, é algo inexplicável. Não há leilão que pague o preço.
Como não ficar satisfeito com o pouco tempo que falta para a hora da chegada de uma visita? O prazer da expectativa de receber uma pessoa em casa por si só já é benéfico, antes mesmo do toque da campainha. O escritor Saint-Exupéry ensinou ao Pequeno Príncipe que se um amigo avisa que vem às quatro horas, desde as três horas ele pode se preparar para ser feliz. O livro, escrito para crianças, mas adorado pelos adultos, também é sinônimo de que a mudança se faz com detalhes. E pequenos gestos fazem a diferença para a felicidade de quem se delicia com a própria existência. Transformar atos, gostos, pensamentos e tudo o que incomoda em momentos de alegria pode ser difícil, mas não é impossível.
Basta que cada um, no filme de sua vida, faça do drama uma comédia, da tragédia um romance, do inusitado um musical. Por exemplo, os calvos devem ficar felizes com suas carecas, pois além de as mulheres gostarem mais deles, não precisam gastar fortunas com pentes de tartaruga e com xampus de algas marinhas. Os ambientalistas agradecem o apoio e ao Greenpeace resta apenas se preocupar com a salvação das baleias. Talvez “role um clima” e muita gente desencalhe. Os encalhados, que reclamam da solidão e invejam os bígamos, podem viver com a convicção de que nunca terão duas sogras, e o sambista, que não perde as oportunidades, pode fazer desta história um conto de carnaval.
A felicidade não se compra, não está no futuro, não se encontra na casa dos outros. O sentimento se realiza na união de prazeres mínimos. No casamento da realidade com a simplicidade. Para começar, é preciso exercitar cada um dia um pouco até o corpo e o cérebro estarem em sintonia. De acordo com os manuais de auto-ajuda, a repetição reforça aquilo o que se acabou de aprender e apressa o progresso para se alcançar o principal. Mesmo com as tristezas, as lutas e as derrotas, o objetivo é um só: ser feliz!  

4 comentários:

  1. É meu amigo Juliano, a felicidade está no relacionar-se...Pois "...Relacionar-se é uma das melhores coisas da vida: relacionar-se significa compartilhar. Mas antes de poder compartilhar, você tem que ter. E antes de poder amar "algo", você deve estar cheio de amor, transbordando de amor..."
    Nesse transbordar de amor, pelo viver, você percorre o caminho da felicidade...Em tudo que percebe pelos nossos sentidos fisicos e não fisicos...
    Pensemos nisso!
    Sou grato!
    Aloha!

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  2. Falar de felicidade é meio complexo, mas acredito nela. Realmente, a felicidade está nas simples coisas, que de fato, não valorizamos. Gostei do pássaro na sua sifônia original. Na melhor idade sem a ditadura da pressa. Mas penso que a felicidade hoje, é desvio, e as pessoas se permutam mais na sobrevivência do que na busca dela que esta ai, mais perto do que se possa imaginar.

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  3. caro Juliano, gostei muito do seu texto. Achei tão bom que pretendo adicioná-lo nas páginas iniciais da minha tese de doutorado como meio de divulgação.
    Grande abraço e sucesso!

    Bruno

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  4. Bruno, olá. Obrigado pela consideração. Como será esta tese. Gostei de ideia. Mantenha contato. Abraço

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